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São Paulo, quinta-feira, 13 de fevereiro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Somos um problema

TÓQUIO - O governo japonês programou para a próxima terça-feira, dia 18, um Simpósio sobre a Comunidade Brasileira.
Delicados como costumam ser, os japoneses não dizem que, na verdade, trata-se de um debate sobre o problema representado pelo intenso fluxo de brasileiros que migraram para o Japão nos anos recentes. Hoje já são 270 mil, aproximadamente, uma escala só alcançada por nacionais de países muito próximos do Japão, como as duas Coréias e a China.
O "problema" é o mesmo apontado por José Graziano, o responsável pelo Fome Zero no Brasil, em relação aos nordestinos: estrangeiros são sempre responsabilizados pelo aumento da criminalidade. "Desde 1997, estrangeiros residindo ilegalmente no país cometeram repetidamente roubos e outros crimes em grupos organizados", diz o chefe de polícia, general Hideiko Sato, em entrevista para o "Yomiuri Shimbun".
Mas o verdadeiro problema representado pela diáspora brasileira, tanto no Japão como em outras partes, é que ela revela o fracasso do Brasil.
Só o fracasso em construir uma pátria decente explica como tantas pessoas trocam um país imenso, cheio de terras e de recursos naturais, por outro, relativamente pequeno e super povoado, carente de tantas benesses da natureza, ainda mais quando seus pais ou avós haviam feito o caminho inverso.
A comunidade brasileira no Japão é até de um dinamismo formidável: edita dois semanários, faz o Banco do Brasil manter uma agência, seis sub- agências e centenas de balcões em locais brasileiríssimos como o "Açougue do Caio" ou o "Baiano's Bar e Restaurante", sinais de mentalidade empreendedora.
Ainda assim, é custosa a adaptação ao que, na verdade, é um outro planeta. Pior: o Japão parece estar entrando na sua quarta recessão em dez anos, desgraça que o Brasil, por muito que patine há duas décadas, não conheceu. O problema é que o Japão, com crise ou sem crise, é um país pronto e acabado. O Brasil nunca chega perto disso.


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