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CLÓVIS ROSSI
Somos um problema
TÓQUIO - O governo japonês programou para a próxima terça-feira, dia
18, um Simpósio sobre a Comunidade Brasileira.
Delicados como costumam ser, os
japoneses não dizem que, na verdade, trata-se de um debate sobre o problema representado pelo intenso fluxo de brasileiros que migraram para
o Japão nos anos recentes. Hoje já são
270 mil, aproximadamente, uma escala só alcançada por nacionais de
países muito próximos do Japão, como as duas Coréias e a China.
O "problema" é o mesmo apontado
por José Graziano, o responsável pelo
Fome Zero no Brasil, em relação aos
nordestinos: estrangeiros são sempre
responsabilizados pelo aumento da
criminalidade. "Desde 1997, estrangeiros residindo ilegalmente no país
cometeram repetidamente roubos e
outros crimes em grupos organizados", diz o chefe de polícia, general
Hideiko Sato, em entrevista para o
"Yomiuri Shimbun".
Mas o verdadeiro problema representado pela diáspora brasileira, tanto no Japão como em outras partes, é
que ela revela o fracasso do Brasil.
Só o fracasso em construir uma pátria decente explica como tantas pessoas trocam um país imenso, cheio de
terras e de recursos naturais, por outro, relativamente pequeno e super
povoado, carente de tantas benesses
da natureza, ainda mais quando
seus pais ou avós haviam feito o caminho inverso.
A comunidade brasileira no Japão
é até de um dinamismo formidável:
edita dois semanários, faz o Banco do
Brasil manter uma agência, seis sub-
agências e centenas de balcões em locais brasileiríssimos como o "Açougue do Caio" ou o "Baiano's Bar e
Restaurante", sinais de mentalidade
empreendedora.
Ainda assim, é custosa a adaptação
ao que, na verdade, é um outro planeta. Pior: o Japão parece estar entrando na sua quarta recessão em
dez anos, desgraça que o Brasil, por
muito que patine há duas décadas,
não conheceu. O problema é que o Japão, com crise ou sem crise, é um país
pronto e acabado. O Brasil nunca
chega perto disso.
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