São Paulo, quinta-feira, 13 de março de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Qual será o perdedor na guerra iminente?
JORGE BOAVENTURA
Como conseguiu a nação pluriestatal tanto poder e êxito? É aí que entra a deusa democracia, a que já nos referimos. Ela é fruto direto da "Declaração Universal dos Direitos dos Homens e dos Cidadãos", consequente à Revolução Francesa. O art. 6º da declaração estabelecia que "a lei é a expressão da vontade geral, manifestada diretamente, ou por intermédio de representantes". Acrescentando adiante que "ninguém será obrigado a fazer, ou a deixar de fazer nada, a não ser em virtude de lei". E tudo isso constitui a viga mestra das "democracias" que convém ao deus Mercado. E pouquíssima gente se deu conta de que, assim, desvincula-se o processo civilizatório de suas bases culturais, com as suas recomendações e exigências. Quem, a partir de então, dispusesse dos meios hábeis para garantir as maiorias legislativas teria o controle do processo civilizatório, isto é, a capacidade de transformar o bem em mal, o vício em virtude, a mentira em verdade. Como ao deus Mercado e aos seus manipuladores da nação pluriestatal interessa manter as massas subjugadas ao seu insaciável apetite de bens materiais, realizável por intermédio do consumismo absurdo, inversor da ordem natural das coisas e estuprador do meio ambiente, nada melhor do que corrompê-las. Como? Tornando a liberdade um ideal que se esgota em si mesmo, sem compromisso com a finalidade do seu exercício, como o exigem as bases da nossa cultura, o que a degrada na licenciosidade crescente, coadjuvante de todos os vícios, de todas as violências, de tudo o que vem transformando a "democracia", deliberadamente falsificada em pouco mais do que uma prostituta devassa, e de situações nacionais e internacionais crescentemente mais cruéis, irracionais e injustas. Em face dos argumentos expostos e de muitíssimos outros, chegou a hora de responder à pergunta acima: o perdedor da guerra será a nação pluriestatal, acompanhada do deus Mercado e da deusa "democracia", seu instrumento de ação. Aliás, no campo psicossocial já a está, manifestamente, perdendo. Quanto à ordem ou desordem internacional que ela instituiu, o que resta da Otan, com França, Alemanha e Rússia unidas contra os "defensores da democracia", quando a Otan foi criada ao tempo da Guerra Fria e do Pacto de Varsóvia? E a guerra iminente, o que deixará de respeitabilidade à ONU? Nós acreditamos na Providência, e é ela que está fazendo com que os povos rejeitem a guerra, salto qualitativo contra os interesses que dominam a comunicação e a estão perdendo. Merece meditação. Jorge Boaventura de Souza e Silva, 80, ensaísta e escritor, é conselheiro do Comando da Escola Superior de Guerra. www.jorgeboaventura.jor.br Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Alberto Silveira Rodrigues: Ética, responsabilidade e as palavras Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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