São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 2006

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O RISCO PUTIN

No próximo dia 19, os bielo-russos irão às urnas para escolher seu presidente. É praticamente certo que Alexander Lukashenka, o atual líder, aliado próximo de Moscou, vencerá. A assertiva não se baseia em pesquisas, mas no fato de que Lukashenka é um ditador. A oposição terá chance mínima.
Lukashenka tem controle sobre praticamente toda a mídia, que faz deslavada campanha a seu favor. Ativistas contrários ao governo são freqüentemente condenados à prisão e ao exílio. Em casos mais raros, simplesmente desaparecem.
Além disso, o presidente tem gigantesco poder econômico sobre a população. A maioria dos funcionários de empresas públicas -isto é, grande parte da população desse país de economia fortemente estatizada- é empregada com base em contratos de um ano. Basta aparentar simpatia pela oposição para ficar sem trabalho. Se tudo isso falhar, ainda se pode fraudar o resultado do pleito, como receiam observadores.
Moscou, é claro, não apenas tolera tudo isso como ainda prega abertamente o voto em Lukashenka. O presidente russo, Vladimir Putin, ele próprio protagonista de uma escalada autoritária, patrocina vários tiranos nos países da antiga União Soviética, que ele considera sua esfera de influência. Além de Lukashenka, podem-se citar os ditadores do Uzbequistão, Islam Karimov, e do Cazaquistão, Nursultan Nazarbaiev.
Fomentar Estados-tampões em suas fronteiras é uma tendência dos dirigentes russos desde a época dos czares. Tal propensão converteu-se, porém, em diretriz prioritária da política externa do Kremlin desde que Putin viu dois aliados próximos caírem devido a protestos populares na Ucrânia e no Quirguistão, em 2004.
É inútil esperar que as democracias européias ensaiem um protesto mais firme contra a interferência de Putin. Vários países da UE dependem do petróleo e do gás russos. E o autocrata não hesita em usar a energia para fazer valer seus interesses.


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