São Paulo, segunda-feira, 13 de março de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

Palocci e Dirceu

SÃO PAULO - No governo de Antonio Palocci em Ribeirão Preto fraudava-se o interesse público à maneira do malufismo-pittismo em São Paulo. Não há como comparar as fraudes em matéria de milhões, que eram muitos mais em São Paulo, mas nas duas cidades a matéria se decompunha por métodos assemelhados, em especial no lixo. Não há também, por ora, prova material contra Palocci. Mas José Dirceu caiu por menos.
Dirceu era mais descartável que seu colega da Fazenda, em termos imediatos, embora muita gente graúda pergunte-se o que será a coalizão parlamentar de um cada vez mais provável segundo governo Lula, minoritária, sem operadores e sem dinheiro -ou sem muito.
Palocci inventou-se político maior quando descobriu o poder que arrebanharia ao tornar-se a engrenagem a conectar Lula ao establishment, ainda na campanha de 2002.
Palocci conectou o petismo-lulismo ao mandarinato econômico: banqueiros, a dúzia de empresários maiores (que na maioria não freqüenta Fiesps, CNIs e Iedis), economistas banqueiros e os ideólogos da liberalização tardia do Brasil, cujo núcleo se formou no Cruzado (1986) e se refundiu nas ruínas desse plano econômico e na renegociação da dívida externa do Brasil (1988-94). Esse grupo tem tido enorme influência nos rumos do país desde 1993, com FHC ministro da Fazenda, embora já plantasse diretrizes desde 1988.
Tanto Palocci esmerou-se em habilidade que operadores antigos do mandarinato, de servidores como Murilo Portugal a empresários e banqueiros, fazem discretas embaixadas pelo ministro, em acordo tácito com caciques de PSDB e PFL.
Recentemente, houve tiros nesse concerto pró-Palocci. Há a eleição, há o lixo montante de Ribeirão e há o fato maior de o petismo-lulismo ter se integrado à corrente principal da vida do país. Não haveria um substituto perfeito, pois mesmo um nome perfeito criaria alguma incerteza. Do mesmo modo que antes não se tratava de conspiração pró-Palocci, mas de política de gente grande, também não há trama para abatê-lo. Mas já se ouve o seguinte: se vier coisa pior, ele não é mais tão indispensável.

@ - vinit@uol.com.br


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