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VINICIUS TORRES FREIRE
Palocci e Dirceu
SÃO PAULO - No governo de Antonio Palocci em Ribeirão Preto fraudava-se o interesse público à maneira do
malufismo-pittismo em São Paulo.
Não há como comparar as fraudes
em matéria de milhões, que eram
muitos mais em São Paulo, mas nas
duas cidades a matéria se decompunha por métodos assemelhados, em
especial no lixo. Não há também, por
ora, prova material contra Palocci.
Mas José Dirceu caiu por menos.
Dirceu era mais descartável que seu
colega da Fazenda, em termos imediatos, embora muita gente graúda
pergunte-se o que será a coalizão
parlamentar de um cada vez mais
provável segundo governo Lula, minoritária, sem operadores e sem dinheiro -ou sem muito.
Palocci inventou-se político maior
quando descobriu o poder que arrebanharia ao tornar-se a engrenagem
a conectar Lula ao establishment,
ainda na campanha de 2002.
Palocci conectou o petismo-lulismo
ao mandarinato econômico: banqueiros, a dúzia de empresários
maiores (que na maioria não freqüenta Fiesps, CNIs e Iedis), economistas banqueiros e os ideólogos da
liberalização tardia do Brasil, cujo
núcleo se formou no Cruzado (1986)
e se refundiu nas ruínas desse plano
econômico e na renegociação da dívida externa do Brasil (1988-94). Esse
grupo tem tido enorme influência
nos rumos do país desde 1993, com
FHC ministro da Fazenda, embora já
plantasse diretrizes desde 1988.
Tanto Palocci esmerou-se em habilidade que operadores antigos do
mandarinato, de servidores como
Murilo Portugal a empresários e banqueiros, fazem discretas embaixadas
pelo ministro, em acordo tácito com
caciques de PSDB e PFL.
Recentemente, houve tiros nesse
concerto pró-Palocci. Há a eleição, há
o lixo montante de Ribeirão e há o fato maior de o petismo-lulismo ter se
integrado à corrente principal da vida do país. Não haveria um substituto perfeito, pois mesmo um nome
perfeito criaria alguma incerteza. Do
mesmo modo que antes não se tratava de conspiração pró-Palocci, mas
de política de gente grande, também
não há trama para abatê-lo. Mas já
se ouve o seguinte: se vier coisa pior,
ele não é mais tão indispensável.
@ - vinit@uol.com.br
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