São Paulo, sexta-feira, 13 de março de 2009

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JOSÉ SARNEY

O ponto G e o ponto zero

MUITAS TEORIAS existem sobre o ponto G, e a maior ambição de todos é encontrá-lo. É o máximo do máximo. Em economia, em tempos de crise, o ponto G é o ponto zero dos juros.
É um sonho que todos perseguem, e, no Brasil, milhões de pessoas falaram zilhões de vezes na baixa de juros, que afinal começam a baixar mesmo, agora aceleradamente. Ontem mesmo o Copom os reduziu em 1,5 ponto percentual.
A atual crise está desmentindo e tornando ineficazes muitos dos instrumentos econômicos julgados milagrosos e reversores de expectativas e desastres. Um dos dogmas era que o juro alto servia para baixar a inflação, alterar os níveis de crescimento e estourar bolhas que se formavam na economia. O Japão levou quase dez anos patinando em juros zero. Agora, a Inglaterra baixou seus juros para 0,5%, e os Estados Unidos, para 0,25%. Quase todos os países giram em torno de zero.
Acontece que o remédio heroico não causa mais efeito. Os economistas já estão construindo uma nova teoria, a de que, em tempos de crise como a que vivemos, nada funciona: só a teoria do caos. E acrescentam que as economias perdem capacidade de reagir quando o juro se aproxima de zero.
Nada faz retroceder o caminho ladeira abaixo. "Never rains, but pours", como dizem os ingleses. O Brasil, que julgávamos mais bem preparado para enfrentar estes tempos difíceis, já começa a sofrer as consequências dessas novas leis, que são a negação das até agora vigentes. Nos EUA, o desemprego chegou a 9% -no ano passado era de 4,4%-, e no Brasil, onde era de 6,8%, agora está em 8%.
Nossa solução está em procurarmos vencer resistências e investir tudo no nosso mercado interno para criar empregos, pois o pior de tudo, em todas as crises, não são os bancos que quebram, mas os milhões de pessoas que perdem o seu emprego e entram no mundo trágico da pobreza, da miséria e da fome. O Bolsa Família e outros programas de colchão social foram criados na hora certa, porque hoje estão segurando o país. Nossas previsões de crescimento mais otimistas chegam aos 0,5%.
É hora de conjugar esforços, apressar a avaliação dos projetos na área ambiental, junto ao Ministério Público e à Justiça. Todos devem se empenhar em resolver os entraves aos investimentos com a maior rapidez, encontrando soluções para os problemas do meio ambiente e do direito, que sempre devem ser atendidos. Mas o certo é investir. Isto é ajudar o Brasil.
A crise é tão grave que anteontem tive a maior evidência dela na visita do príncipe Charles ao Senado. Atrasou 40 minutos. Até a pontualidade britânica desmoronou.

jose-sarney@uol.com.br

JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.


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