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JOSÉ SARNEY
O ponto G e o ponto zero
MUITAS TEORIAS existem
sobre o ponto G, e a maior
ambição de todos é encontrá-lo. É o máximo do máximo.
Em economia, em tempos de crise,
o ponto G é o ponto zero dos juros.
É um sonho que todos perseguem,
e, no Brasil, milhões de pessoas falaram zilhões de vezes na baixa de
juros, que afinal começam a baixar
mesmo, agora aceleradamente.
Ontem mesmo o Copom os reduziu em 1,5 ponto percentual.
A atual crise está desmentindo e
tornando ineficazes muitos dos
instrumentos econômicos julgados milagrosos e reversores de expectativas e desastres. Um dos dogmas era que o juro alto servia para
baixar a inflação, alterar os níveis
de crescimento e estourar bolhas
que se formavam na economia.
O Japão levou quase dez anos patinando em juros zero. Agora, a Inglaterra baixou seus juros para
0,5%, e os Estados Unidos, para
0,25%. Quase todos os países giram
em torno de zero.
Acontece que o
remédio heroico não causa mais
efeito. Os economistas já estão
construindo uma nova teoria, a de
que, em tempos de crise como a
que vivemos, nada funciona: só a
teoria do caos. E acrescentam que
as economias perdem capacidade
de reagir quando o juro se aproxima de zero.
Nada faz retroceder o
caminho ladeira abaixo. "Never
rains, but pours", como dizem os
ingleses.
O Brasil, que julgávamos mais
bem preparado para enfrentar estes tempos difíceis, já começa a sofrer as consequências dessas novas
leis, que são a negação das até agora
vigentes. Nos EUA, o desemprego
chegou a 9% -no ano passado era
de 4,4%-, e no Brasil, onde era de
6,8%, agora está em 8%.
Nossa solução está em procurarmos vencer resistências e investir
tudo no nosso mercado interno para criar empregos, pois o pior de tudo, em todas as crises, não são os
bancos que quebram, mas os milhões de pessoas que perdem o seu
emprego e entram no mundo trágico da pobreza, da miséria e da fome. O Bolsa Família e outros programas de colchão social foram
criados na hora certa, porque hoje
estão segurando o país. Nossas previsões de crescimento mais otimistas chegam aos 0,5%.
É hora de conjugar esforços,
apressar a avaliação dos projetos
na área ambiental, junto ao Ministério Público e à Justiça. Todos devem se empenhar em resolver os
entraves aos investimentos com a
maior rapidez, encontrando soluções para os problemas do meio
ambiente e do direito, que sempre
devem ser atendidos. Mas o certo é
investir. Isto é ajudar o Brasil.
A crise é tão grave que anteontem tive a maior evidência dela na
visita do príncipe Charles ao Senado. Atrasou 40 minutos. Até a pontualidade britânica desmoronou.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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