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CESAR MAIA
Esquadra Flint
BEATRIZ SARLO, ensaísta argentina, ensina que "o presente não é um momento
único, mas responde a formações
de média e longa duração. O presente se vive com paixões políticas,
que o historiador não aceita sem
que medeiem filtros teóricos e de
método. Não somos historiadores
de nosso presente, porque é impossível sê-lo" ("Clarín", 11/2).
Quem diz que está fazendo história, o que faz é se olhar no espelho.
As relações entre os países americanos vêm desde as guerras de independência, que nos países hispânicos tomaram como referência a
República construída nos EUA.
No Brasil, da mesma forma, na
superação do Império. No final do
século 19, o debate político nos
EUA centrou-se nas relações comerciais externas e em torno de
dois eixos: política tarifária e acordos de reciprocidade.
Em 1889-90,
realizou-se nos EUA a primeira
Conferência Pan-Americana, matriz da futura OEA. Nela discutiram-se os acordos de reciprocidade. O primeiro deles é negociado
com o Brasil, entre o ministro James Blaine e o representante brasileiro, depois cônsul, Salvador de
Mendonça: o acordo Blaine-Mendonça.
A disputa do mercado brasileiro
entre os EUA e a Europa culminou
com o apoio europeu à Revolta da
Armada, tentativa de golpe da Marinha, liderada pelo almirante Custódio de Melo, atraindo depois o almirante Saldanha da Gama. Objetivo: derrubar o presidente Floriano Peixoto.
A baía da Guanabara foi ocupada
pela presença ostensiva de navios
de guerra europeus, em apoio aos
da Marinha brasileira e com saudades da monarquia. Floriano, nacionalista e industrialista, avesso ao
acordo Blaine-Mendonça, terminou pragmaticamente cedendo, na
busca de apoio militar dos EUA,
que se deu com cinco navios de
guerra. A estes se somou uma esquadra particular de navios de
guerra (depois comprada pelo Brasil), construída pelo empresário
norte-americano Charles Flint.
A "Esquadra Flint" chega ao Rio
dando demonstração de força. O
navio-chefe da Marinha dos EUA
alertou com dois canhonaços, que
levaram ao recuo e exílio de Saldanha da Gama. Dez anos depois, o
embaixador Joaquim Nabuco
(1905-10) acentuou a parceria preferencial com os EUA em outra
Conferência Pan-Americana.
Este desenho da geopolítica continental completa 120 anos. A Argentina até hoje reclama. Mas agora, em 2010, o Grupo Rio criou
mais um clube e excluiu os EUA. O
governo "sub-15" do Brasil entrou
nesta como já tinha entrado no caso de Honduras. Acha que está fazendo história. O que está mesmo é
aquecendo a política chavista.
E estimulando as relações bilaterais dos EUA com os países do continente, que já chegam a 60% deles.
cesar.maia@uol.com.br
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta coluna.
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