São Paulo, Sábado, 13 de Março de 1999
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A ÂNCORA DO EURO

Guardadas imensas diferenças de proporção e de situação, o início do euro -a moeda única européia- coloca em cena conflitos doutrinários semelhantes aos que marcaram o lançamento do real no Brasil.
De um lado, adeptos do fortalecimento da nova moeda a qualquer custo. De outro defensores de uma visão pragmática alertam para os custos da ortodoxia monetária, tanto sociais quanto na economia real.
Aparentemente, os defensores de uma UE (União Européia) ancorada no social perderam uma importante batalha com a queda do ministro das Finanças alemão, Oskar Lafontaine.
O ex-ministro era um dos defensores de políticas keynesianas, por exemplo pressionando o BCE (Banco Central Europeu) pela queda nas taxas de juros, para estimular a economia e o nível de emprego. Ele se batia ainda por mais impostos sobre o capital e por mecanismos de intervenção contra a excessiva flutuação das moedas internacionais.
Não foi por acaso que, após sua queda, ocorreu alta imediata de 6% na Bolsa de Valores alemã. Mas sua derrota não encerra a luta entre as visões social e financista da moeda.
Aliás, o mais provável é que muito brevemente o BCE efetivamente reduza os juros. Não só porque a economia alemã tem sofrido um desaquecimento bem além do esperado, mas também porque, sem Oskar Lafontaine, a burocracia da União Européia poderá reduzir a taxa sem dar a impressão de que estaria sujeitando-se às suas pressões.
Na prática, o euro vem apenas perdendo valor, desde que foi lançado oficialmente, em janeiro deste ano.
A UE por ora tem uma moeda menos forte que o desejado pelos seus banqueiros. Em contrapartida, seu projeto de economia mais solidária resiste -apesar da queda de Lafontaine, seu partido afirmou que não vai renunciar às políticas de cunho social. É uma lição para países que, como o Brasil, lutam não só pela defesa da moeda, mas também por seus projetos de integração regional.


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