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A ÂNCORA DO EURO
Guardadas imensas diferenças de
proporção e de situação, o início do
euro -a moeda única européia- coloca em cena conflitos doutrinários
semelhantes aos que marcaram o
lançamento do real no Brasil.
De um lado, adeptos do fortalecimento da nova moeda a qualquer
custo. De outro defensores de uma
visão pragmática alertam para os
custos da ortodoxia monetária, tanto
sociais quanto na economia real.
Aparentemente, os defensores de
uma UE (União Européia) ancorada
no social perderam uma importante
batalha com a queda do ministro das
Finanças alemão, Oskar Lafontaine.
O ex-ministro era um dos defensores de políticas keynesianas, por
exemplo pressionando o BCE (Banco
Central Europeu) pela queda nas taxas de juros, para estimular a economia e o nível de emprego. Ele se batia
ainda por mais impostos sobre o capital e por mecanismos de intervenção contra a excessiva flutuação das
moedas internacionais.
Não foi por acaso que, após sua
queda, ocorreu alta imediata de 6%
na Bolsa de Valores alemã. Mas sua
derrota não encerra a luta entre as visões social e financista da moeda.
Aliás, o mais provável é que muito
brevemente o BCE efetivamente reduza os juros. Não só porque a economia alemã tem sofrido um desaquecimento bem além do esperado,
mas também porque, sem Oskar Lafontaine, a burocracia da União Européia poderá reduzir a taxa sem dar
a impressão de que estaria sujeitando-se às suas pressões.
Na prática, o euro vem apenas perdendo valor, desde que foi lançado
oficialmente, em janeiro deste ano.
A UE por ora tem uma moeda menos forte que o desejado pelos seus
banqueiros. Em contrapartida, seu
projeto de economia mais solidária
resiste -apesar da queda de Lafontaine, seu partido afirmou que não
vai renunciar às políticas de cunho
social. É uma lição para países que,
como o Brasil, lutam não só pela defesa da moeda, mas também por seus
projetos de integração regional.
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