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O acordo de redução do IPI dos carros contribui para evitar demissões?
SIM
Tributos e políticas de emprego
HÉLIO ZYLBERSTAJN
O acordo de redução do IPI (Imposto
sobre Produtos Industrializados) fará
com os nossos automóveis a mesma
coisa que a desvalorização cambial fez
com as nossas exportações. O real desvalorizado barateou nossos produtos e
vai induzir o consumidor externo a
comprar mais bens "made in Brazil".
O acordo do IPI reduziu os preços dos
automóveis e, pela mesma razão, vai
induzir o consumidor brasileiro a comprar carros novos.
É claro que a maneira mais eficaz de
combater o desemprego seria ampliar
diretamente a atividade econômica. O
desemprego cairia rapidamente se pudéssemos aumentar os gastos do governo, reduzir a taxa de juros, ampliar o
crédito e assim por diante.
Mas essa não é a única maneira de
enfrentar o problema. É possível manter e até mesmo ampliar o emprego
com outro tipo de políticas: as que focalizam o lado da oferta. Por exemplo,
a diminuição dos custos de produção
dos bens e serviços. Com menores custos, os preços caem -e os consumidores ganham um forte incentivo para
comprar. Resultado: a demanda aumenta, induzida pelo lado da oferta.
É exatamente isso que o acordo do
IPI faz. O governo reduz impostos, os
fabricantes e os revendedores reduzem
suas margens, os automóveis ficam
mais baratos e os consumidores voltam
ao mercado. Para completar, as montadoras se comprometem a não fazer demissões por três meses. Ao final desse
prazo, será feita uma avaliação do programa. Se tiver sido bem-sucedido, poderá ser estendido e ampliado, lançando as bases para um projeto mais ambicioso e permanente: a reciclagem da
nossa frota de carros e caminhões.
É evidente que tudo isso deverá ter
consequências positivas. Os encadeamentos da indústria automobilística
com outros setores industriais provocarão impactos multiplicadores importantes nas fábricas de autopeças e de
outros insumos, nos prestadores de
serviços industriais, nas revendas, nas
companhias de seguro etc.
O potencial de impacto, portanto,
não é desprezível. Não apenas demissões serão evitadas como muitos empregos, diretos e indiretos, poderão ser
criados. De quebra, o governo manterá
a arrecadação, pois as alíquotas menores serão compensadas pelo crescimento nas vendas.
O acordo do IPI é importante também por outros motivos. Em primeiro
lugar, tendo sido uma iniciativa dos
trabalhadores, é uma demonstração do
amadurecimento do sindicalismo brasileiro. Ele mostra que parcelas importantes dos sindicalistas ultrapassaram a
fase da reivindicação e adotaram uma
conduta construtiva e propositiva,
mais apropriada para a solução efetiva
dos nossos problemas.
Em segundo, a idéia de combater o
desemprego pela redução negociada
dos custos e dos preços não precisa ficar restrita às montadoras. Pelo contrário: o eventual sucesso do acordo emergencial dos automóveis poderá transformá-lo em um paradigma a ser adotado em outros segmentos do mercado.
Estendida a outros setores, a redução
do IPI e das margens de lucro, vinculada à manutenção dos empregos, não
poderia ser apontada como um privilégio da indústria automobilística e dos
metalúrgicos.
Finalmente, tudo isso poderá convencer nossos governantes de que a reforma tributária é, nas condições peculiares da economia brasileira, um instrumento de política de emprego.
Os trabalhadores metalúrgicos estão
mostrando que, em vez de continuar a
manipular impostos transitoriamente e
casuisticamente, precisamos de uma
reforma tributária inteligente, radical e
definitiva, capaz de ampliar e tornar
permanentes as conquistas do acordo
de redução do IPI.
Hélio Zylberstajn, 53, é professor da FEA (Faculdade de
Economia e Administração) da USP (Universidade de São
Paulo) e pesquisador da Fipe (Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas), na qual coordena o programa
Mediar (Informações para a Mediação Estratégica entre
Trabalho e Capital).
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