|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Desencontros
SÃO PAULO - A apresentação ao
presidente Luiz Inácio Lula da Silva
e a outras altas autoridades dos 12
mil jovens que trabalharão no Pan
foi marcada por brigas e ofensas entre rapazes e moças que moram em
favelas onde o tráfico de drogas é
controlado por facções inimigas,
conforme o relato de Sergio Torres
nesta Folha.
Se brigam na presença do presidente e da inevitável e nutrida segurança que acompanha permanentemente as autoridades, imagine-se o que não pode acontecer
quando ficarem a sós diante dos
milhares de atletas e visitantes que
participarão ou acompanharão o
Pan do Rio.
Lula talvez nem tenha visto os
atritos, mas filosofou ocamente de
novo ao dizer que, quando um jovem comete um crime, a imprensa
dá grande destaque, mas nunca publica, "nem no rodapé", notícias favoráveis aos jovens carentes.
É ignorar a natureza do jornalismo, desde sempre. Jovem que estuda (pobre ou rico) não é notícia,
trabalhador que trabalha (pobre ou
rico) não é notícia, avião que decola
ou pousa no horário não é notícia,
seja um teco-teco seja um jato de
última geração.
Notícia por definição é jovem
(pobre ou rico) que briga em festa
do presidente, é trabalhador (pobre
ou rico) que entra em greve, é avião
que cai ou atrasa muito.
Aí vem o ministro da Justiça,
Tarso Genro, e diz que as brigas entre os jovens foram meros "desencontros", "normais onde se reúne
muita juventude". Se essa é a visão
do ministro da Justiça, as "facções
inimigas" que estão na origem da
briga podem ficar tranqüilas.
Já o ministro da Defesa, Waldir
Pires, diz ser "rotina" em países em
desenvolvimento o caos aéreo recentemente visto por aqui. Vai ver
que houve só "desencontros" entre
passageiros e suas aeronaves.
Na verdade, o que há é um brutal
"desencontro" entre a realidade e o
presidente e seus ministros.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Restrições ao álcool
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: O reinado Lula Índice
|