|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JOSÉ SARNEY
O fantasma da desigualdade
A IGUALDADE sempre foi o
grande sonho do homem
desde que teve consciência
de sua condição humana. Fizeram-se revoluções, escreveram-se tratados, pensadores, poetas e políticos construíram fórmulas e meios
de chegarmos a ela. A grande Revolução Francesa, de 1789, considerada um marco na história da humanidade, resumiu seus ideais em
três palavras chaves e divinas: liberdade, igualdade e fraternidade.
Na Declaração da Independência
americana, Thomas Jefferson ampliava essas aspirações, dizendo
que todos os homens têm direito à
"busca da felicidade". Associava-se
a felicidade aos anseios do homem.
Chegou-se a considerar que o século 18 fosse o da liberdade, o 19, o
da igualdade, e o 20, o da fraternidade. E qual seria o da felicidade?
Os poetas divagaram muito sobre
ela -e até mesmo se ela existe. Hoje, estudiosos da alma humana buscam em Jung a visão de que todos
morremos frustrados, com a mágoa de não termos vivido a vida que
deveríamos ter vivido. E aí entra a
angústia dos erros, dos pecados e
até mesmo de ter pecado. Borges
dizia que se tivesse de viver de novo
não seria tão prudente quanto foi,
sempre "usando pára-quedas".
Divagações à parte, leio que estamos num período em que a desigualdade diminui no país e 7 milhões de brasileiros rompem a linha da pobreza. Mas me preocupam não só a desigualdade de pessoas como as desigualdades espaciais. Estas marcarão o futuro dos
países e do mundo. Já 17 países, no
balanço alimentar e de modos de
sobrevivência, não têm condições
de existir e vivem da caridade.
Surge o problema da água como
o mais dramático dos tempos que
virão. Todos somos água, e faltará
água para que a vida continue. Onde ela existe não se pode mudar,
pois a geografia é a única coisa imexível, como diria certo ministro dos
anos 90, embora no mistério que
Deus utilizou para fazer o mundo
até hoje não nos permite saber o
que acontecerá com as mudanças
climáticas.
Continuo pensando que, no Brasil, o grande problema ainda é e será o das desigualdades regionais. O
centro-sul transformou-se num
buraco negro, que é um lugar em
que a gravidade é tanta que nem a
luz escapa de sua atração. É o que
acontece com as regiões pobres do
Brasil, sugadas pelo centro-sul. O
único período em que as desigualdades regionais inverteram suas
setas foi nos anos 85-90. Continua
a concentração irresistível. Nesta
semana, uma pessoa falou-me das
saudades e da beleza de sua cidade
em Goiás, mas terminou dizendo-me: "Me corta o coração, porque a
população está diminuindo, só ficam os velhos".
Os novos são atraídos pelo centro-sul. O interior vira fantasma, e
no Norte e no Nordeste é pior.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Nelson Motta: Ver ou não ver, eis a questão Próximo Texto: Frases
Índice
|