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CARLOS HEITOR CONY
Almoço com o poeta
RIO DE JANEIRO - Almocei nesta semana com Thiago de Mello, irmão, companheiro de cela, ou, como ele prefere me chamar: "companheiro da manhã", embora a nossa
manhã já esteja longe, apesar de cada vez mais presente. Sofremos os
mesmos espantos e nos trocamos
as mesmas consolações.
Quando Virgílio embarcou pelos
mares túrgidos para fazer a Eneida,
o poeta Horácio dedicou-lhe um
dos mais belos poemas da humanidade, pedindo que o navio trouxesse de volta, incólume, "a metade de
sua alma" - "et serves animae dimidium meae".
Sempre que me separo de Thiago
faço o mesmo pedido. Traçamos
um belíssimo vinho chileno (ele viveu anos no Chile), falamos sobre o
querido Armando Nogueira e sobre
a Amazônia, onde o poeta nasceu e
vive como um animal na floresta.
Ele conhece o assunto, no qual
sou analfabeto de pai, mãe e consanguíneos. Até 2090 -informa o
poeta-, a Amazônia será uma savana, um Saara imenso, sem águas e
sem árvores. Culpa do tal aquecimento global, mas culpa também
dos homens que somos todos nós.
A natureza indicava para a região
um único Estado soberano que cuidasse dos mananciais e da estupenda ecologia local. Mas os homens fizeram meridianos delimitando
posses entre Espanha e Portugal.
Desavenças factuais pulverizaram
o que poderia ser a América Espanhola. O resultado é que a enorme
região, de características tão especiais, ficou dividida entre Brasil,
Colômbia, Venezuela, Bolívia, Peru
e uma Guiana que nem latina é.
Cada país enfrentou e enfrenta
seus próprios problemas, alguns
deles chegam a brigar entre si por
disputas menores -e o formidável
pedaço de mundo tem vários donos
e praticamente não tem um responsável legal. Não se trata de internacionalizar a Amazônia, mas de
racionalizá-la.
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