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ELIANE CANTANHÊDE
Nem emoção, nem razão
BRASÍLIA - Há duas curiosidades,
ou indicações, na informação de
Mônica Bergamo de que os artistas,
ou pelo menos os do elenco da nova
novela global, estão em cima do
muro na eleição. O único que pulou
do muro foi Marcello Antony -para dizer que tende a votar nulo.
Afoitos por natureza, os artistas
costumam ser os primeiros a declarar preferência e a articular festas e
badalações para candidatos, puxando, talvez, o voto de uma multidão
de fãs com gosto a mais por estrelas
e a menos pela política.
Cláudia Raia e Marília Pera aderiram a Collor, Raul Cortez era pró-FHC, Regina Duarte se celebrizou
pelo "medo" do PT, Paulo Betti e
Letícia Sabatella fizeram campanha para Lula. Mas, neste ano, a
turma anda meio desanimada. Até
um festa para Dilma no Rio acabou
sendo fiasco de público e de crítica.
O curioso é que o desânimo não é
exclusivo dos artistas, mas reflete
um sentimento fácil de detectar. E
não se trata da indefinição dos menos informados, normal a esta altura, e sim dos mais bem informados.
A indicação foi dada por Antony:
"Tô bem sem esperança (...). A corrupção vai continuar existindo. Lá
dentro, o time é o mesmo", disse.
Quanta gente você tem encontrado
no bar, no escritório, na escola dizendo a mesma coisa? Sem contar
os que vão protestar de outro jeito:
optando por Marina Silva, do PV.
"Em quem você vai votar?", vivo
perguntando por aí. Afora os eternos petistas ou tucanos, as respostas são: "Não sei", "em ninguém" e
"talvez acabe votando na Marina".
Esse é o retrato de um momento
da campanha, quando a propaganda na TV nem começou. Mais do
que um retrato do momento, porém, pode ser um retrato da própria
eleição: sem um "caçador de marajás", um Plano Real ou um Lula
atingindo o ponto ideal de candidatura; e com os dois favoritos, seus
partidos, seus programas e suas
práticas muito semelhantes.
Isso esfria a emoção e esmaece a
razão. Pelo menos até começar o
verdadeiro clima de Fla-Flu.
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