São Paulo, quinta-feira, 13 de maio de 2010

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ELIANE CANTANHÊDE

Nem emoção, nem razão

BRASÍLIA - Há duas curiosidades, ou indicações, na informação de Mônica Bergamo de que os artistas, ou pelo menos os do elenco da nova novela global, estão em cima do muro na eleição. O único que pulou do muro foi Marcello Antony -para dizer que tende a votar nulo.
Afoitos por natureza, os artistas costumam ser os primeiros a declarar preferência e a articular festas e badalações para candidatos, puxando, talvez, o voto de uma multidão de fãs com gosto a mais por estrelas e a menos pela política.
Cláudia Raia e Marília Pera aderiram a Collor, Raul Cortez era pró-FHC, Regina Duarte se celebrizou pelo "medo" do PT, Paulo Betti e Letícia Sabatella fizeram campanha para Lula. Mas, neste ano, a turma anda meio desanimada. Até um festa para Dilma no Rio acabou sendo fiasco de público e de crítica.
O curioso é que o desânimo não é exclusivo dos artistas, mas reflete um sentimento fácil de detectar. E não se trata da indefinição dos menos informados, normal a esta altura, e sim dos mais bem informados.
A indicação foi dada por Antony: "Tô bem sem esperança (...). A corrupção vai continuar existindo. Lá dentro, o time é o mesmo", disse. Quanta gente você tem encontrado no bar, no escritório, na escola dizendo a mesma coisa? Sem contar os que vão protestar de outro jeito: optando por Marina Silva, do PV.
"Em quem você vai votar?", vivo perguntando por aí. Afora os eternos petistas ou tucanos, as respostas são: "Não sei", "em ninguém" e "talvez acabe votando na Marina".
Esse é o retrato de um momento da campanha, quando a propaganda na TV nem começou. Mais do que um retrato do momento, porém, pode ser um retrato da própria eleição: sem um "caçador de marajás", um Plano Real ou um Lula atingindo o ponto ideal de candidatura; e com os dois favoritos, seus partidos, seus programas e suas práticas muito semelhantes.
Isso esfria a emoção e esmaece a razão. Pelo menos até começar o verdadeiro clima de Fla-Flu.


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