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KENNETH MAXWELL
Resgate
OS "MERCADOS" se recuperaram depois do anúncio do
imenso pacote europeu de
assistência aos membros do sul do
continente que vêm encontrando
dificuldades.
A despeito das medidas de austeridade anunciadas pelo governo
grego, dos tumultos nas ruas de
Atenas e da morte de três funcionários em um banco atacado com
coquetéis molotov, os membros da
UE que usam o euro não haviam
conseguido entrar em acordo
quanto a medidas para conter a crise financeira. Os alemães, especialmente, se opunham a qualquer
"resgate".
O problema básico era a crescente incapacidade da Grécia para
manter o serviço de sua imensa dívida pública pagando juros de mercado. Os europeus e o FMI, sob intensa pressão, aprovaram um resgate que oferecerá US$ 140 bilhões
à Grécia em prazo de três anos.
Com apoio relutante da Alemanha, os ministros das Finanças da
UE, agindo com o apoio do FMI e
do banco central dos Estados Unidos, aprovaram também o equivalente a quase US$ 1 trilhão em garantias de empréstimos, o que inclui um compromisso de aquisição
de títulos de dívida nacionais pelo
Banco Central Europeu a fim de
impedir que o "contágio" se expanda e de ajudar a sustentar a situação financeira da Grécia, bem como a de Portugal e Espanha.
Vai funcionar? A Grécia assumiu
o compromisso de reduzir as bonificações de Páscoa, verão e Natal de
seus funcionários públicos e aposentados, vai elevar os impostos
sobre combustível, tabaco e álcool,
elevar a idade mínima de aposentadoria para 65 anos e impor o uso de
medicamentos genéricos no sistema estatal de saúde.
Mas o "Washington Post" relata
que uma avaliação interna do FMI
é pessimista. O estudo aponta que
o choque social ainda não se fez
sentir no país em toda a sua profundidade.
Até mesmo ligeiras variações de
comportamento no crescimento,
inflação, medidas de austeridade e
elevação de impostos farão com
que a carga da dívida grega aumente, a despeito dos esforços internacionais para reduzi-la. O FMI projeta anos de queda nos salários e
padrões de vida e desemprego ampliado. O quadro não é bonito.
Já diante da crescente indignação quanto ao acordo, a chanceler
alemã, Angela Merkel, sofreu sério
revés em eleições regionais importantes e foi forçada a abandonar
seus planos de cortar impostos.
Josef Schlarmann, líder regional
da União Democrata Cristã, partido de centro-direita de Merkel,
acusou a chanceler de "fazer pouco
para resistir ao resgate à Grécia".
Seria desnecessário dizer que os bancos continuam a ser pagos.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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