São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 2011

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JOSÉ SARNEY

Migrações

Há alguns anos, participei em Querétaro, no México, de uma reunião internacional -na qual estavam Henry Kissinger, Robert McNamara, Takeo Fukuda, Helmut Schmidt e muitos outros experts e estadistas mundiais- que discutiu os problemas do futuro da humanidade, tema recorrente no InterAction Council.
Dois problemas se destacavam entre os muitos que teriam de ser geridos pelos Estados nacionais: as migrações e o balanço alimentar.
O homem sempre foi um migrante. Foi assim que ocupou toda a Terra. Saiu da África e daí espalhou-se pela Ásia, pela Europa e depois, com a discutida teoria de ter atravessado o estreito de Bering, chegou à América.
A verdade é que, nessa ânsia de andar, o homem não deixou nenhuma ilha perdida no Pacífico sem ali ter se instalado. Suas motivações eram a segurança e a alimentação, pois vivia da coleta e da caça.
Tinha espaços a ocupar e terras a habitar. As migrações, no começo das civilizações, eram das culturas que se empurravam umas às outras: os macedônios e outros povos que forjaram a civilização grega, os celtas ocupando o norte da Europa, os fenícios se expandindo pelo Mediterrâneo, e tantos outros.
Através do estudo de DNAs e mitocôndrias, foi possível mapear os caminhos em que povos primitivos se moveram e se misturaram, num processo de miscigenação, de tal modo que cada um de nós tem um pedaço de cada lugar que se diluiu no tempo passado.
O mundo se tornou estreito, internacionalizado, encolheu com a da velocidade dos transportes, sem desaparecer a cultura do mover-se, do andar.
Agora o grande problema europeu é como tratar os refugiados da Líbia, da Tunísia e de outros países da África. Da Líbia já saíram para Túnis 361 mil pessoas, para o Egito, 270 mil, para a Itália, 10 mil, para a Argélia, 18 mil, para o Níger, 60 mil, para o Chade, 23 mil, além de outros milhares para o Sudão, para Malta e para outros destinos.
E agora Gaddafi, vendo nessa onda humana que sai uma bomba que entrega aos invasores, liberou a saída a todos que quiserem emigrar, em alguns casos obrigando-os a embarcar sob a mira de armas.
Muitos morrem na travessia do Mediterrâneo pela precariedade e pela lotação das embarcações desesperadas. Se antigamente o homem emigrava por comida e espaço, hoje ele o faz por motivos políticos ou pelo desejo de melhores condições de vida. A miséria de um país pobre está para uma sociedade rica a apenas uma passagem de avião, de barco, ou cruzando barreiras de arame farpado, como no México.
A humanidade do futuro vai ter de resolver, além do problema das armas nucleares, o das massas humanas em busca de pão e água.

JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
jose-sarney@uol.com.br


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