São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 2005

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CARLOS HEITOR CONY

Retificando a história

RIO DE JANEIRO - Leitores me perguntaram, alguns em forma de reclamação explícita, sobre a história que contei a respeito do velório de JK aqui no Rio. Evidente que não tenho provas, nem preciso tê-las, uma vez que contei com as necessárias ressalvas o episódio ocorrido no Instituto Médico Legal e no saguão da "Manchete", onde realizou-se o citado velório.
Citei outro fato que também provoca polêmicas periódicas, sobre o real conteúdo da tumba de Napoleão Bonaparte, nos Invalides, em Paris. E poderia citar centenas de outros casos, pesquisados ou não, que volta e meia, por este ou aquele motivo, são contestados ou recebem versão diferente daquela que a história oficial registra.
Basta lembrar que, nos dias atuais, o livro mais vendido em quase todos os países é relativo a Leonardo da Vinci, trazendo detalhes espantosos sobre a vida daquele gênio, sem qualquer base documental e sem consistência científica.
Nem Shakespeare escapa. Algumas de suas tragédias com personagens históricos são chutadas em favor do desenvolvimento dramático e do profundo conteúdo humano que ele buscou e conseguiu. Diz-se, por exemplo, que "Júlio César" tem base em Tácito e Suetônio. Uma gota de realidade num oceano de ficção.
De igual forma, Jesus Cristo tem provocado, ao longo de 20 séculos, diversas biografias fantásticas, com um apoio mínimo no texto dos evangelhos, que, afinal, é a única base (lendária ou não, de acordo com a crença de cada um) para a vida e para as lições que criaram o cristianismo.
Não é pretensão do cronista igualar-se a Shakespeare ou aos evangelhos. Seria ridículo, além de desnecessário. Mas a história contada sobre o velório de JK é assombrosa ao mesmo tempo que é improvável. Não fui nem sou o autor dela. Surgiu aos poucos, naquilo que poderíamos chamar, com licença do Severino, de baixo clero de funcionários ligados às pompas fúnebres.


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