São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 2006

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CLÓVIS ROSSI

O crime e as atitudes

MADRI - O presidente da República descobriu a pólvora, como é de seu costume. "Temos de tomar atitudes", declarou todo solene em Salvador, a propósito da nova onda de ataques em São Paulo.
Sim, cara pálida, temos. Mas faz ao menos 20 anos que atitudes deveriam ter sido tomadas por sucessivos governos, inclusive aqueles comandados por gente que agora é sua aliada incondicional desde criancinha, caso de José Sarney.
Mas se o Maranhão, feudo dos Sarney há meio século, está sob ataque do beribéri, mal do século 19, o que se pode esperar desse pessoal? Se respondeu nada, acertou.
Vale idêntica resposta para os que foram governo a vida inteira e agora estão na oposição a Lula, caso de Cláudio Lembo, governador de São Paulo.
Lembro-me de que, na sabatina que a Folha fez com ele logo após a primeira onda de ataques, estava todo cheio de pose, ao contrário do habitual, certo de que "sua" polícia (ele é que usou essa expressão, tomando posse do que não é dele) era dona da situação.
Vê-se agora que não é. Chegou-se ao inacreditável ponto de se criar um "SOS telefônico" para que agentes do Estado peçam proteção ao Estado quando ameaçados pelos criminosos que o Estado não consegue detectar nem muito menos prender.
A falta de atitude de TODOS os governantes dos últimos 20 ou 25 anos levou a uma situação em que polícia tem medo de bandido, mas bandido não teme a polícia. Acaba qualquer vestígio de vida civilizada. São Paulo (o Estado, não só a cidade) está sitiado pelo crime. No Rio, candidatos ao governo do Estado precisam de licença dos criminosos para fazer campanha em certas áreas.
Pois é, presidente, passou da hora de tomar atitudes. Tome-as. Se souber quais. Duvido.


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