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ELIANE CANTANHÊDE
Solidão
BRASÍLIA - Não vai aqui nenhum
julgamento, muito menos condenação. Trata-se apenas de uma
constatação simples do que acontece com Renan Calheiros: ele está
nadando contra a maré.
Esse filme a gente já viu uma,
duas, incontáveis vezes. O sujeito
nada, nada e vai morrer na praia.
Não suporta a pressão política e
pessoal de ver todo dia sua vida devassada, seus cheques expostos,
seus bois fotografados, suas ligações grampeadas. Acorda com as
manchetes dos jornais e vai dormir
com os jornais da noite mostrando
detalhes cada vez mais comprometedores. A cada resposta, mais cinco
perguntas. Não acaba nunca.
Foi assim com os ex-presidentes
da Câmara Ibsen Pinheiro e João
Paulo Cunha, com os ex-presidentes do Senado ACM e Jader Barbalho, com os ex-presidentes de partido José Dirceu, Valdemar Costa
Neto e Roberto Jefferson, com o ex-presidente da República Fernando
Collor. Cada um é cada um, cada
história é uma história, cada culpa é
uma culpa. Fala-se aqui da trajetória e, principalmente, do desfecho.
E qual vem a ser esse desfecho? A
volta. Demora mais, demora menos, mas todos acabam voltando,
legitimados pelo voto popular. As
eleições lavam as biografias. Quer
dizer: mais ou menos.
Depois do tsunami, os nadadores
voltam, mas jamais voltam a ser os
mesmos. Passam a vida se explicando, trocam a ribalta pelos bastidores, mudam até de redutos eleitorais, correndo atrás dos menos escolarizados (e mais ingênuos).
A cada dia, Renan nada mais desesperadamente, engolindo água,
pedindo socorro a Lula, agarrando-se à base aliada, gritando que não
desiste. Mas, ao abdicar de presidir
uma sessão do Congresso, ele abdicou da presidência do Senado. Na
prática, já é ex-presidente.
Se olhar em volta, verá que não
está totalmente só porque alguém
ficou ao seu lado e fiel: Verônica.
elianec@uol.com.br
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