São Paulo, sexta-feira, 13 de julho de 2007

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ELIANE CANTANHÊDE

Solidão

BRASÍLIA - Não vai aqui nenhum julgamento, muito menos condenação. Trata-se apenas de uma constatação simples do que acontece com Renan Calheiros: ele está nadando contra a maré. Esse filme a gente já viu uma, duas, incontáveis vezes. O sujeito nada, nada e vai morrer na praia.
Não suporta a pressão política e pessoal de ver todo dia sua vida devassada, seus cheques expostos, seus bois fotografados, suas ligações grampeadas. Acorda com as manchetes dos jornais e vai dormir com os jornais da noite mostrando detalhes cada vez mais comprometedores. A cada resposta, mais cinco perguntas. Não acaba nunca.
Foi assim com os ex-presidentes da Câmara Ibsen Pinheiro e João Paulo Cunha, com os ex-presidentes do Senado ACM e Jader Barbalho, com os ex-presidentes de partido José Dirceu, Valdemar Costa Neto e Roberto Jefferson, com o ex-presidente da República Fernando Collor. Cada um é cada um, cada história é uma história, cada culpa é uma culpa. Fala-se aqui da trajetória e, principalmente, do desfecho. E qual vem a ser esse desfecho? A volta. Demora mais, demora menos, mas todos acabam voltando, legitimados pelo voto popular. As eleições lavam as biografias. Quer dizer: mais ou menos.
Depois do tsunami, os nadadores voltam, mas jamais voltam a ser os mesmos. Passam a vida se explicando, trocam a ribalta pelos bastidores, mudam até de redutos eleitorais, correndo atrás dos menos escolarizados (e mais ingênuos). A cada dia, Renan nada mais desesperadamente, engolindo água, pedindo socorro a Lula, agarrando-se à base aliada, gritando que não desiste. Mas, ao abdicar de presidir uma sessão do Congresso, ele abdicou da presidência do Senado. Na prática, já é ex-presidente.
Se olhar em volta, verá que não está totalmente só porque alguém ficou ao seu lado e fiel: Verônica.

elianec@uol.com.br


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