São Paulo, terça-feira, 13 de julho de 2010

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MARCOS NOBRE

O lugar dos conservadores

A segunda metade do já distante século 20 não foi tempo de sutilezas políticas. A Guerra Fria entre os EUA e a então União Soviética bloqueava a política como só guerras conseguem.
Se não declarasse adesão a um dos polos, uma pessoa tinha de passar por extenso formulário de antecedentes para poder enunciar sua posição.
Para evitar toda essa burocracia política, o questionário básico passou a conter apenas três categorias: "conservador", "reacionário" e "progressista". No formulário, a alternativa "nenhuma das anteriores" costumava ser preenchida com "alienado".
É possível que, da classificação, somente os "reacionários" tenham conseguido sobreviver sem muitos sobressaltos. Com razão, já que estão sempre no mesmo lugar.
Progresso foi uma das ideias mais criticadas no século 20. E por boas razões. Mas, sem alarde, a referência ficou na política. "Progressista" designava quem se pautava pela necessidade de transformação social em algum nível. E não apenas por progresso tecnológico ou material.
"Conservador" incluía desde defensores de ditaduras até liberais civilizados, comprometidos com instituições democráticas mínimas. O campo conservador se caracterizava por estabelecer limitações prévias e fixas contra tentativas de transformação social substantivas.
As últimas três décadas colocaram essas categorias de ponta-cabeça. Como os progressistas conseguiram institucionalizar várias de suas bandeiras, os conservadores tiveram de sair da inércia e ir à luta.
E, a cada batalha que venciam, os progressistas se recolhiam a uma posição meramente defensiva das instituições que ajudaram a criar.
Não por acaso, a vaga conservadora veio junto com a autoajuda. Se só você mesmo pode se ajudar, qualquer proteção que venha de fora é necessariamente má e perversa.
O problema é que isso não funciona em tempos de crise econômica global. Nessa hora, o indivíduo precisa mesmo é da solidariedade social consubstanciada nas políticas sociais protetivas instituídas pelo progressismo.
Só que as vitórias conservadoras bloquearam objetivamente o funcionamento dessas políticas.
Sem substitutos à vista, são dois campos políticos igualmente obsoletos. Mas que continuam a operar. E com a importante diferença de que o conservadorismo está no poder. Nas instituições e nos livros de autoajuda. E, para se manter no poder, tem a cara dura de aceitar sem corar todas as políticas que malhou nos últimos 30 anos.
Vai ganhando por inércia. O conservadorismo voltou a seu lugar natural.

nobre.a2@uol.com.br


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