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A estética do futebol
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Posso estar enganado, mas é a primeira vez que o nosso
futebol penetra no Museu Nacional de
Belas Artes, tido como espaço nobre e
acadêmico das artes plásticas no Brasil. O futebol, antes de ser um jogo e
uma emoção, é uma plástica, um espetáculo visual em si, e nada de mais
que seja introduzido ao lado de nossas
maiores expressões da pintura e da escultura.
Devemos a façanha a Rubens Gerchman e Armando Nogueira, responsáveis pela exposição "A Estética do Futebol", que até o final do mês poderá
ser visitada aqui no Rio. De Friedenreich a Ronaldinho, passando por Domingos da Guia, Leônidas, Heleno de
Freitas, Zizinho, Didi, Nílton Santos,
Ademir, Garrincha, Pelé, Gérson, Zito,
Rivelino, Tostão, Zico, Romário, todos
estão lá.
Olimpo de nossos deuses e panteão
de nossos heróis, merecem ficar lá para sempre. Gerchman captou cada um
deles a partir do logotipo com que penetraram em nosso imaginário. E os
textos de Armando também fazem
parte de nossa cultura; são momentos
antológicos, que honrariam qualquer
literatura.
Por falar nisso, a crônica esportiva
entre nós já ganhou maturidade e autonomia artística. Tivemos Mário Filho e Nelson Rodrigues, temos Armando Nogueira com sua precisão vocabular, suas imagens surpreendentes.
Ninguém melhor do que ele conseguiu
definir o drible de Garrincha: "Para
Garrincha, a superfície de um lenço
era um latifúndio". Sobre Friedenreich: "Foi ele que ensinou o caminho
do gol à bola brasileira".
Rubens Gerchman está onde devia:
num museu nacional, ao lado de Pedro Américo, Victor Meirelles e Bernadelli. Armando ainda está deslocado.
Precisam colocá-lo na Academia, uma
reparação à memória de Mário e Nelson e uma justiça para com o melhor
texto de nossa imprensa esportiva. E,
sobretudo, para que o futebol, depois
de entrar no Museu Nacional, entre
afinal na imortalidade.
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