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O DISCURSO DE LULA
Foi pífio o tão aguardado pronunciamento do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. O propalado discurso de estadista, que deveria
servir para conter os ânimos exaltados pela crise política e pelas fartas
evidências de corrupção, revelou-se
uma peça frustrante.
Durante mais ou menos a metade
de seu pronunciamento, o presidente da República, diante de seus ministros, perdeu-se em elogios a seu
próprio governo. No restante, quando finalmente se dignou a falar da rede de desmandos em que se converteram sua administração e seu partido, ficou aquém das expectativas.
Com efeito, Lula afirmou-se indignado e traído, mas não disse por
quem. Declarou que, se estivesse a
seu alcance, já teria identificado e punido exemplarmente todos os responsáveis pela situação. Ora, sabe-se
que o presidente fez o possível para
manter na Casa Civil o ministro José
Dirceu, que só caiu depois da patética advertência pública do deputado
Roberto Jefferson. E o PT nem sequer expulsou de seus quadros o ex-tesoureiro Delúbio Soares, apontado
como o principal operador do esquema de corrupção ao lado do publicitário Marcos Valério. Não se deve esquecer também que o governo encabeçado por Lula -que agora se proclama o mais indignado dos cidadãos- moveu todos os esforços para evitar a instalação das CPIs.
Embora o primeiro mandatário tenha dito que tem consciência da gravidade da crise, a sensação que transmitiu é a de que continua encapsulado num mundo à parte, onde o país
vai muito bem, com exceção de desvios e problemas institucionais que
prejudicam o sistema partidário.
Mesmo no momento que deveria
ter sido o ponto alto do pronunciamento -o do pedido de desculpas-, mostrou-se acabrunhado.
Tecnicamente, o presidente solicitou
escusas à população, mas fê-lo cercando-se de tantos cuidados lingüísticos que transpareceu uma decisão
tomada um tanto a contragosto.
De elogiável, ficou a decisão de
quebrar a rotina de discursos populistas para se dirigir mais serenamente à nação. Embora tardio e pequeno, foi um passo positivo.
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