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PLÍNIO FRAGA
A carranca de Lula
RIO DE JANEIRO - Carrancas são
esculturas de madeira de rostos
afugentadores vistas com freqüência em barcas que singram pelo rio
São Francisco desde o século 19. Na
crendice popular, servem para espantar os maus espíritos das águas.
Barqueiros mais antigos acreditam
que, quando há perigo de a embarcação afundar, a carranca avisa com
três gemidos.
Os dicionaristas têm várias hipóteses sobre por que carranca passou
a designar também "fisionomia
sombria, carregada, expressiva de
mau humor, raiva, desgosto", como
define o "Houaiss". A mais provável
é a transformação por metáfora da
expressão da cara feia da escultura
na descrição do estado de espírito
de desgosto.
Na primeira imagem da entrevista que concedeu ao "Jornal Nacional" na quinta-feira, impressionou
a carranca de Lula. Estava na cara
que o resultado seria um desastre.
Antes mesmo de começar a ser
questionado, mostrava-se desconfortável, e o conteúdo de suas respostas foi desabonador. Lula gaba-se constantemente de ser um comunicador de fala direta com a
massa, mas desde que seja uma via
de mão única. Não sabe ouvir.
A testa franzida de Lula mostrava
mais do que as palavras que dizia ao
tentar explicar o inexplicável. Cometeu atos falhos clássicos ao dizer
que seu governo combate a ética e
que o salário é a única coisa que cai.
Será que Lula faz análise?
Tomou para si o papel de senhor
da moralidade e anunciou ao país
que demitiu José Dirceu e Antonio
Palocci, caso comum de tentativa
de reescrever a história a seu gosto.
O presidente, que promete desde
2002 mudar o curso das águas do
São Francisco, podia pegar de suas
embarcações algumas carrancas e
espalhar pelo Palácio do Planalto.
Quem sabe seus gemidos não o alertem para quando houver dinheiro
vazando pelo ladrão.
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