São Paulo, segunda-feira, 13 de agosto de 2007

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Três pólos

A 14 meses do pleito municipal, Alckmin lidera com folga, Marta Suplicy confirma força e Kassab é a promessa de surpresa

POLÍTICOS e profissionais especializados em eleições costumam invocar o vocábulo inglês recall para avaliar resultados de pesquisas feitas muito tempo antes do pleito. Quando o interesse do eleitorado passa ao largo do jogo partidário, quando nem mesmo a tábua de candidatos se definiu, as sondagens medem mais a reminiscência, a lembrança de certos nomes guardados com simpatia na memória popular.
Com a pesquisa Datafolha publicada ontem acerca da disputa pela Prefeitura de São Paulo não foi diferente. Quatorze meses antes do primeiro turno, um ex-governador e ex-candidato à Presidência, derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva em segundo turno há nove meses, lidera em todos os cenários propostos pelo instituto. Atrás dele aparece a ministra que governou a capital até o fim de 2004, ano em que sua candidatura à reeleição foi derrotada pela de José Serra, também em segundo turno.
Não há novidade na aparição do tucano Geraldo Alckmin como forte postulante. Ainda vice-governador do Estado, em 2000 deixou de disputar o segundo turno municipal por menos de 8.000 votos (num universo de 5,5 milhões). Depois disso, com a morte de Mário Covas (março de 2001), assumiu o governo estadual, foi reeleito no ano seguinte e, candidato à Presidência, em 2006 obteve 3,5 milhões de sufrágios no segundo turno na capital paulista, superando Lula, que angariou 2,9 milhões.
Mas a explicitação do cacife de Alckmin -seria eleito em todos os cenários se o pleito fosse hoje- vai tornar quase irresistível a sua candidatura. O ex-governador lidera um grupo emergente na política paulista que busca seu lugar ao sol no PSDB. Para Alckmin, deixar de disputar a prefeitura em condições favoráveis é arriscar tanto a sua liderança quanto o futuro dessa corrente, em meio às batalhas de caciques que caracterizam a agremiação tucana.
Quanto à ex-prefeita Marta Suplicy, o Datafolha mostra que a derrapagem verbal a respeito da crise aérea não solapou suas chances. Desde que era prefeita, ela mantém uma base sólida de apoio na populosa periferia da capital. Com esse trunfo, ajudou a eleger vários deputados petistas e ampliou seu poder na máquina partidária. Terá, contudo, de amainar sua rejeição -que começa a retirar-lhe apoio já a partir da faixa de renda mensal de 2 a 5 salários mínimos- se quiser ser eleita de novo.
A pesquisa do Datafolha, no entanto, não se restringe a medir recall. O prefeito Gilberto Kassab (DEM) é a promessa de novidade. Há pouco mais de um ano, quase 80% dos paulistanos nem sequer sabiam o nome do seu prefeito. Hoje, graças à lei que baniu outdoors e similares do município, sua popularidade cresce em ritmo notável.
Se mantiver a tendência, é provável que a ascensão de Kassab redunde na ruptura da aliança histórica de seu partido com o PSDB em São Paulo. Caso o ex-PFL deseje mesmo obter luz própria na política paulista -e na nacional-, não terá alternativa a não ser disputar com os tucanos a preferência de um eleitorado de perfil semelhante.


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