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Três pólos
A 14 meses do pleito municipal, Alckmin lidera com folga, Marta Suplicy confirma força e Kassab é a promessa de surpresa
POLÍTICOS e profissionais
especializados em eleições costumam invocar o
vocábulo inglês recall para avaliar resultados de pesquisas feitas muito tempo antes do
pleito. Quando o interesse do
eleitorado passa ao largo do jogo
partidário, quando nem mesmo
a tábua de candidatos se definiu,
as sondagens medem mais a reminiscência, a lembrança de certos nomes guardados com simpatia na memória popular.
Com a pesquisa Datafolha publicada ontem acerca da disputa
pela Prefeitura de São Paulo não
foi diferente. Quatorze meses
antes do primeiro turno, um ex-governador e ex-candidato à
Presidência, derrotado por Luiz
Inácio Lula da Silva em segundo
turno há nove meses, lidera em
todos os cenários propostos pelo
instituto. Atrás dele aparece a
ministra que governou a capital
até o fim de 2004, ano em que
sua candidatura à reeleição foi
derrotada pela de José Serra,
também em segundo turno.
Não há novidade na aparição
do tucano Geraldo Alckmin como forte postulante. Ainda vice-governador do Estado, em 2000
deixou de disputar o segundo
turno municipal por menos de
8.000 votos (num universo de
5,5 milhões). Depois disso, com a
morte de Mário Covas (março de
2001), assumiu o governo estadual, foi reeleito no ano seguinte
e, candidato à Presidência, em
2006 obteve 3,5 milhões de sufrágios no segundo turno na capital paulista, superando Lula,
que angariou 2,9 milhões.
Mas a explicitação do cacife de
Alckmin -seria eleito em todos
os cenários se o pleito fosse hoje- vai tornar quase irresistível a
sua candidatura. O ex-governador lidera um grupo emergente
na política paulista que busca
seu lugar ao sol no PSDB. Para
Alckmin, deixar de disputar a
prefeitura em condições favoráveis é arriscar tanto a sua liderança quanto o futuro dessa corrente, em meio às batalhas de caciques que caracterizam a agremiação tucana.
Quanto à ex-prefeita Marta
Suplicy, o Datafolha mostra que
a derrapagem verbal a respeito
da crise aérea não solapou suas
chances. Desde que era prefeita,
ela mantém uma base sólida de
apoio na populosa periferia da
capital. Com esse trunfo, ajudou
a eleger vários deputados petistas e ampliou seu poder na máquina partidária. Terá, contudo,
de amainar sua rejeição -que
começa a retirar-lhe apoio já a
partir da faixa de renda mensal
de 2 a 5 salários mínimos- se
quiser ser eleita de novo.
A pesquisa do Datafolha, no
entanto, não se restringe a medir
recall. O prefeito Gilberto Kassab (DEM) é a promessa de novidade. Há pouco mais de um ano,
quase 80% dos paulistanos nem
sequer sabiam o nome do seu
prefeito. Hoje, graças à lei que
baniu outdoors e similares do
município, sua popularidade
cresce em ritmo notável.
Se mantiver a tendência, é provável que a ascensão de Kassab
redunde na ruptura da aliança
histórica de seu partido com o
PSDB em São Paulo. Caso o ex-PFL deseje mesmo obter luz
própria na política paulista -e
na nacional-, não terá alternativa a não ser disputar com os tucanos a preferência de um eleitorado de perfil semelhante.
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