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VÁCUO PERIGOSO
Tantos são os problemas de governo, é tão aguda a crise do Estado, e
tão disseminada é a imagem de inapetência governatícia do Planalto que
se tornou nada difícil posar de estadista. Líderes políticos sentem-se à
vontade para sacar do bolso pacotes
mal-amanhados de soluções de jaez
populista. Assim, tais figuras tentam
ocupar o ao menos aparente vácuo de
poder com soluções e projetos que,
curiosamente, dormitaram tanto
tempo em suas mentes ora tão ativas
e solícitas. Destaque-se, a propósito,
o óbvio caso do presidente do Congresso, Antonio Carlos Magalhães.
O mais recente surto desse período
de elucubrações do senador foi a sugestão, oferecida de maneira algo
sensacional, de que é preciso tomar
medidas para contornar o pagamento de precatórios. Isto é, daquelas dívidas que os governos são obrigados
a pagar por determinação irrecorrível
da Justiça. De fato, trata-se de problema gravíssimo, por vários motivos.
O Estado de São Paulo tem uma dívida decorrente de precatórios de R$
5,6 bilhões. Argumenta-se que parte
dela tem origem duvidosa, pois teria
resultado, por exemplo, da cobrança
de indenizações estranhamente altas. De todo modo, a falta de pagamento faz com que o governador
paulista tenha contra si mais de 600
pedidos de intervenção no Supremo
Tribunal Federal. Se o STF aceitar tais
pedidos, o presidente da República
terá de intervir em São Paulo. Está-se
entre a hecatombe financeira e a crise
política ou até institucional.
O senso de oportunidade de ACM
fez esse tema ferver, com o que o senador atropelou Covas e o Planalto,
que estudavam formas de resolver a
questão. Não se sabe se o caso dos
precatórios terá agora encaminhamento melhor, mas ACM deu outro
passo no caminho de sua tentativa de
plasmar a imagem de homem que
faz, contraposta à de um governo que
patina na inércia, não importa qual
seja a base real desses rótulos.
Parece, pois, tratar-se simplesmente da estratégia, por parte de ACM, de
se descolar do governo e, ao mesmo
tempo, apregoar dons de realizador e
estadista preocupado, em oposição à
ora cadente figura de Fernando Henrique Cardoso. Assim, o senador e
seu partido procuram reter os benefícios de estar no poder e evitar seu
ônus mais pesado. Resta saber se a
opinião pública ainda vai aceitar esse
jogo, do qual o PFL parece se valer
desde o fim do regime militar.
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