São Paulo, segunda-feira, 13 de setembro de 2004

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PAINEL DO LEITOR

Zelo
"É voz que clama no deserto o protesto de Janio de Freitas sobre o quase-silêncio reservado aos massacres de populações civis perpetrados pela violência dos Exércitos da Rússia, dos Estados Unidos, de Israel etc. em contraste com a histeria com que se martela a morte de vítimas de bombas "não-oficiais" ("Umas crianças, outras crianças", Brasil, pág. A5, 12/9). O site www.iraqbodycount.net revela que entre 11.793 e 13.802 civis iraquianos (quantos deles crianças?) já foram mortos pelas forças de ocupação desde 19 de março de 2003. Colin Powell agora consterna-se com o genocídio no Sudão ("Conflito no Sudão é genocídio, diz Powell", Mundo, 10/9). Não é comovente e reconfortante ver como os EUA zelam para que só eles possam cometer genocídios?"
Luiz Marques, departamento de história da Unicamp (São Paulo, SP)

Braço interventor
"Parabenizo Contardo Calligaris pelo artigo "Um novo código para os psicólogos" (Ilustrada, 9/9). O texto é brilhante e definitivo. Sou advogado, membro da comissão redatora do Estatuto da Criança e do Adolescente, e identifico essa loucura suicida de profissionais liberais como reflexo da influência da força perversa da burocracia. No caso de São Paulo, os burocratas "institucionalizados" por essa tal de Febem (que viola de forma insidiosa todos os princípios do ECA) estão transformando profissionais liberais (assistentes sociais, psicólogos, pedagogos e até advogados) em braço interventor da "autoridade pública. Esses profissionais são essencialmente o braço apoiador do exercício da liberdade individual "contra toda intervenção burocrática"." Edson Sêda (São Paulo, SP)

"Não posso deixar de comentar a coluna de Contardo Calligaris de 9/9. Desde que tomei conhecimento desse projeto estou estarrecida. Ainda estou em estado de choque. As palavras de Calligaris descrevem exatamente o que a gente sente no consultório. A questão do sigilo é básica por vários motivos -até para que o vínculo se estruture de maneira a possibilitar o desenvolvimento do trabalho. Pensar a psicologia hoje em dia, dadas as mudanças socioculturais, e adaptá-la a determinadas condutas eu posso entender. Mas isso que se propõe já é demais. Já estou vendo um monte de nós enquadrados, com ficha na Justiça, presos etc. A ditadura está voltando e esqueceram de nos avisar." Marina Genova, psicóloga (São paulo, SP)

"O Conselho Regional de Psicologia de São Paulo só tem a lastimar e desprezar o artigo de Contardo Calligaris de 9/9, pois ele desrespeita um processo democrático dos psicólogos na busca séria e comprometida para atualizar seu código de ética. O texto desrespeita uma categoria inteira e ridiculariza o ato de denúncia de violência, cometendo o equívoco de pensar que violência é comportamento de pessoas pobres. E tudo isso acompanhado de um tom sarcástico que nada acrescenta ao processo digno que os psicólogos vêm realizando."
Wanda Maria Junqueira de Aguiar, doutora em psicologia social, presidente do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (São Paulo, SP)

Resposta do articulista Contardo Calligaris - A idéia de que a violência seria comportamento de pessoa pobre não está na coluna. O que é dito é que, com o novo código, os pobres serão denunciados, e os ricos não.

Pesquisa
"De acordo com a boa ciência, os resultados de uma pesquisa só devem ser divulgados após sua confirmação. Divulgá-los antes é irresponsabilidade ou arrogância -ou ambos. No caso da extravagante idéia do "algodão-aranha" ("Algodão da Embrapa terá gene de aranha", Ciência, 9/9), a possibilidade de dar errado é muito maior do que a de dar certo, por isso estranhei o fato de a pesquisa ter sido divulgada com tanto estardalhaço."
Milton Krieger (Piracicaba, SP)

MP
"Sim, o Ministério Público vem conquistando nos últimos anos credibilidade com a sociedade. Vem elucidando inúmeros casos de corrupção e de desvio de dinheiro público, entre outros. Entretanto devemos lembrar que a investigação policial, como o nome diz, não é função do MP. Este, além de ser o fiscal da lei, exerce o controle externo sobre a polícia, única detentora do inquérito policial. Ao MP cabe somente solicitar a abertura de inquérito. Quando atua como polícia nas investigações e interrogatórios, o MP fere o princípio da repartição de poderes. Caso a polícia não se mostre, por qualquer motivo, interessada em elucidar algum caso, concordo que o MP faça investigação. Mas creio ser necessário haver um controle externo do órgão para coibir eventuais abusos -que já acontecem-, sejam eles por motivos políticos ou não."
Dennys Boccia, estudante de direito na Unip, estagiário do Ministério Público do Estado de São Paulo (São Paulo, SP)

Progresso e nação
"Nos meus 65 anos de vida, aprendi que, quando alguma coisa falha, podemos compreender o fato enquadrando-o no binômio incompetência/safadeza. É batata! Não falha nunca. No caso do Copom, parece-me inaceitável que se porte como se a cidadania não fosse problema dele. Como se a ele bastasse seguir rigorosamente a ortodoxia econômica. E o povo que se dane! E os produtores que se lasquem! Concluindo: eles não me parecem safados. São apenas tristemente incompetentes. O professor Paulo Nogueira e o articulista Luís Nassif têm repetido à exaustão que o ser humano é muito mais importante, que não existe economia sem povo e que não haverá progresso sem nação".
Roberto Sidney Varrone
(Paraguaçu Paulista, SP)

Traços
"Li no "Painel do Leitor" um comentário sobre o programa "Provocações" e sobre programas TV que apresentam "traços" no Ibope. Eu sou um desses "traços", pois assisto ao "Provocações" -e assisto basicamente à TV Cultura. Acho que sou sempre um "traço" nas estatísticas. Sou traço quando escuto música clássica ou jazz. Sou traço quando leio livros. Sou traço quando jogo xadrez e quando estudo francês. Na verdade, considero o Ibope das TVs abertas uma medida da qualidade da educação no nosso país. Teremos um país digno de orgulho na educação e na cultura quando o Ibope inverter-se e passar a dar traço nas novelas, nos programas de auditório, nos programas sensacionalistas e nos jornais de tragédia."
Marcos Penteado (São Paulo, SP)

Pitbull
"Lamentável a notícia de que o PT irá poupar o senhor Maluf na CPI do Banestado em troca de ser mais "soft" com dona Marta e atacar o senhor Serra ("PT faz pacto com Maluf para atacar Serra", Brasil, 10/9). Essa é mais uma marca da política que ninguém esperava do PT no poder e deixa evidente o início da derrocada do partido nas eleições em São Paulo. Essa notícia vem evidenciar a volta do estilo "pitbull" da prefeita nas últimas declarações dela sobre uma possível vitória de Serra. A prefeita desespera-se ao ver que na capital paulista só a maquiagem urbana não convence." Arnaldo Comerlati (São Paulo, SP)


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