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CLÓVIS ROSSI
Radicalismo, por favor
SÃO PAULO - Fernando Cardim
de Carvalho, professor de economia
da Universidade Federal do Rio de
Janeiro e uma das vozes dissonantes que a ditadura do chamado pensamento único condena ao ostracismo, fez um resumo da economia
brasileira para um seminário na
Califórnia que a revista "Democracia Viva" publica no seu número do
terceiro trimestre.
O artigo de Cardim de Carvalho
chama a atenção por dois aspectos,
pelo menos: primeiro, apresenta
um gráfico da evolução da renda
real per capita do brasileiro entre
1986 e 2005. É um eletrocardiograma plano, como se o coração econômico do Brasil mal batesse.
Vinte anos é tempo suficiente para que determinadas políticas tenham passado pelo teste definitivo,
ideologias à parte: ou funcionam ou
não funcionam.
No Brasil, o receituário hegemônico não funcionou, pelo menos do
ponto de vista que mais interessa, o
da renda da população.
Segundo aspecto interessante:
crítico acerbo das políticas ditas
neoliberais, o economista da UFRJ
admite: "Embora o neoliberalismo
tenha sido a visão dominante por
mais de uma década, as reformas liberais nunca foram totalmente
aplicadas".
Cardim de Carvalho acredita que
levar mais a fundo o neoliberalismo
seria ruinoso. A experiência de outros países é, a respeito, bastante
eloqüente.
Feita essa ressalva, é forçoso admitir que ao Brasil falta radicalismo. Essa pasmaceira que se vê na
política repete-se na economia
(com os resultados ruins já conhecidos). Será que não está na hora de
radicalizar, de um lado ou de outro?
Ou abrir e liberalizar de uma vez ou
devolver ao Estado o poder de intervenção que perdeu.
Será possível formar uma coalizão (não só política, mas social e
acadêmica) forte pró uma ou outra
hipótese? O arrozinho-com-feijão
mostra-se insosso demais.
crossi@uol.com.br
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