São Paulo, quarta-feira, 13 de setembro de 2006

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CLÓVIS ROSSI

Radicalismo, por favor

SÃO PAULO - Fernando Cardim de Carvalho, professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e uma das vozes dissonantes que a ditadura do chamado pensamento único condena ao ostracismo, fez um resumo da economia brasileira para um seminário na Califórnia que a revista "Democracia Viva" publica no seu número do terceiro trimestre.
O artigo de Cardim de Carvalho chama a atenção por dois aspectos, pelo menos: primeiro, apresenta um gráfico da evolução da renda real per capita do brasileiro entre 1986 e 2005. É um eletrocardiograma plano, como se o coração econômico do Brasil mal batesse.
Vinte anos é tempo suficiente para que determinadas políticas tenham passado pelo teste definitivo, ideologias à parte: ou funcionam ou não funcionam.
No Brasil, o receituário hegemônico não funcionou, pelo menos do ponto de vista que mais interessa, o da renda da população.
Segundo aspecto interessante: crítico acerbo das políticas ditas neoliberais, o economista da UFRJ admite: "Embora o neoliberalismo tenha sido a visão dominante por mais de uma década, as reformas liberais nunca foram totalmente aplicadas".
Cardim de Carvalho acredita que levar mais a fundo o neoliberalismo seria ruinoso. A experiência de outros países é, a respeito, bastante eloqüente.
Feita essa ressalva, é forçoso admitir que ao Brasil falta radicalismo. Essa pasmaceira que se vê na política repete-se na economia (com os resultados ruins já conhecidos). Será que não está na hora de radicalizar, de um lado ou de outro?
Ou abrir e liberalizar de uma vez ou devolver ao Estado o poder de intervenção que perdeu. Será possível formar uma coalizão (não só política, mas social e acadêmica) forte pró uma ou outra hipótese? O arrozinho-com-feijão mostra-se insosso demais.


crossi@uol.com.br

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