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GUSTAVO FRANCO
Em que planeta?
NA SEMANA que passou, foi
organizada em Brasília uma
reunião de ex-ministros da
Fazenda a propósito da comemoração dos 200 anos do dito ministério. Três dias de festa. Os dois primeiros com ex-ministros de todo
tipo, alguns há muito sumidos do
noticiário; o terceiro com economistas de perfil heterodoxo, alguns
no governo.
A condução dos trabalhos exibiu
doses de ecumenismo que não se
via desde a "Era Palocci". Foram
várias manifestações ressaltando a
cumulatividade da história, que
não teria começado em janeiro de
2003 e a que todos os presentes, cada um à sua maneira, teriam contribuído para que chegássemos onde estamos.
Mas nem todos os ex-ministros
entraram nesse clima. Um ou outro fez uma declaração mais espetada, revivendo a sua experiência, o
que talvez tenha transmitido ao
leitor, no dia seguinte, a sensação
de assistir a um videoteipe condensado dos grandes pacotes econômicos que o Brasil já viveu.
Não por outro motivo, o mestre
Chico Caruso publicou uma charge
majestosa, usando a imagem do videoclipe "Thriller", com o ministro
Mantega caracterizado como Michal Jackson e, como figurantes
dançarinos, os ministros Bresser,
Delfim, Zélia, Galveas e Dornelles,
e a também professora Maria da
Conceição Tavares.
Foi, contudo, da professora, cuja
influência sobre os citados está
longe de ser pequena, e da ministra
Dilma que vieram as declarações
mais contundentes. Tinha sido
anunciado o socorro financeiro às
securitizadoras americanas Fannie May e Freddie Mac, e o sarcasmo estava em toda parte, afinal, era
uma estatização em pleno governo
Bush.
À esquerda, todavia, a notícia gerou enorme excitação, como se
grandes intervenções estatais, anticíclicas, tipicamente, ou por ocasião de crises bancárias, não fossem parte do acervo de políticas
públicas em qualquer democracia
liberal no Ocidente e também no
Oriente.
O fato é que a professora Conceição declarou, com sua verve habitual, que o neoliberalismo estava
morto, o que constrangeu diretamente o ministro Mantega. Na
mente do ministro, a porção pragmática deve ter perguntado: "Em
que planeta, professora?". E, na
porção responsável, a que impede
as autoridades de falar demais, o
conselho deve ter sido o de calar
sobre o assunto, e por dois bons
motivos: não existe propriamente
um protocolo "de esquerda" sobre
como atuar em crises bancárias e,
ao fim das contas, Mantega é a prova viva de que a professora está enganada.
Provocado a comentar a intervenção, o ministro foi sucinto: "Foi
pragmatismo responsável".
gh.franco@uol.com.br
GUSTAVO FRANCO escreve aos sábados nesta
coluna.
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