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NELSON MOTTA
Chico x Caetano
RIO DE JANEIRO - "No fundo,
sempre existiu no PT a idéia de que
você ou é petista ou é um calhorda.
Um pouco como o PSDB acha que
você ou é tucano ou é burro",
Chico Buarque explodiu numa gargalhada.
São gritantes os defeitos e semelhanças dos dois partidos e seus
chefes e militantes. Sem falar no aspecto mafioso e quadrilheiro, inerente à política brasileira, parecem
mais torcidas organizadas de futebol, com sua intolerância, fanatismo e cegueira. É mesmo uma temeridade colocar nossas esperanças e
nosso destino nas mãos dessa gente. Mas é o que nos é dado escolher.
Bem, para quem viveu na ditadura,
poder escolher entre o ruim e o pior
já é um avanço.
O PT foi contra o Plano Real, dizia que era eleitoreiro, armação da
direita. O PSDB nega o sucesso do
Bolsa Família e o chama de populismo e demagogia eleitoral. Na oposição, o PT sabotou sistematicamente bons projetos do governo FHC.
Fora do poder, os tucanos dedicam
a maior parte de seu tempo e ação
para investigar, agredir e destruir o
lulo-petismo.
É melhor escolher entre Chico e
Caetano. Mais uma vez, os dois
amigos estão em lados opostos.
Tanto em seus novos discos como
nas opiniões políticas. Chico se
aprofundou na complexidade harmônica e melódica de suas canções
e adensou a sua poesia. Caetano,
aos 63 anos, deu um salto no escuro
com um disco de rock, duro e cru,
cheio de ironias e provocações, cercado por poucos e jovens músicos,
cuspindo fogo. Dois discos poderosos, corajosos e honestos.
Chico vota Lula, com ressalvas,
mas bons motivos. Caetano pode
ser Alckmin, ou não, com ótimas razões. O melhor é que Chico não tem
os defeitos de caráter e conduta do
PT e Caetano pode ser acusado de
tudo menos de ser "de direita" ou
tucano em cima do muro.
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