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FERNANDO RODRIGUES
Nhonhô e sinhá
BRASÍLIA - A regressão do debate
eleitoral não ocorre só por causa do
fundamentalismo religioso adotado "con gusto" pelos dois concorrentes ao Palácio do Planalto. Há
também nas propagandas uma forte conotação assistencialista.
O candidato nhonhô José Serra
(PSDB) promete salário mínimo de
R$ 600 e um 13º aos beneficiários
do Bolsa Família. A sinhá Dilma
Rousseff (PT) fala em distribuição
de remédios e luz de graça para pobres. Não há um trecho das propagandas eleitorais sugerindo como
os brasileiros, eles próprios, têm
também de participar do processo
de desenvolvimento do país.
É como se só o Estado com suas
tetas enormes estivesse obrigado a
ser o provedor de tudo. Esse discurso glorifica e incentiva o eleitor pidão, um "não cidadão", alguém
que olha o governo e só vê uma entidade abstrata, cujo dinheiro surge
por geração espontânea.
Dilma e Serra falam sobre valores
e desenvolvimento. Mas nenhum
menciona o quanto cada eleitor terá de trabalhar para tornar realidade o Brasil mostrado no horário político pelas lentes digitais com
"efeito de cinema".
É uma atitude cômoda. Dilma e
Serra manipulam as crenças e a fé
da massa maior de eleitores. Gente
a favor de manter como crime a prática do aborto. Não fosse por Marina Silva, paradoxalmente a mais
conservadora, nenhum tema relacionado ao século 21 teria aparecido na campanha.
Depois de 25 anos de democracia, faltou coragem aos candidatos
a presidente com chance de vencer.
Evitam tratar os eleitores como
adultos. Seria ingenuidade esperar
de Dilma ou de Serra uma frase
igual à pronunciada por John Kennedy em 1961, ao tomar posse
-"não pergunte o que o seu país
pode fazer por você, mas o que você
pode fazer pelo seu país".
O Brasil está a léguas desse estágio de maturidade. PT e PSDB, nesta campanha, fazem o possível para
manter tudo como está.
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
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