São Paulo, quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

ANTONIO DELFIM NETTO

Diálogo chinês

O governo chinês está dando sinais muito interessantes de que deseja um diálogo mais adequado com o setor privado externo, que o ajudou e continua a ajudar a construir sua economia.
Este sente-se permanentemente ameaçado pela intensa discriminação que sofre na competição interna promovida por empresas estatais, principalmente em relação à apropriação de suas tecnologias.
Agora mesmo, a Ford e a Toyota, que desejam participar da indústria de carros elétricos na China (que deverá ser a maior do mundo), só poderão fazê-lo se se dispuserem a ceder gratuitamente a tecnologia (baterias, controles, motores etc.) que já desenvolveram (e que custaram milhões de dólares) às três empresas estatais chinesas que serão criadas para conquistar o mundo. Quem quiser aceita. Quem não quiser não precisa entrar.
A tecnologia será contrabandeada do mesmo jeito!
No dia 22 de setembro, o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, reuniu-se no Waldorf Astoria de Nova York com uma dezena de grandes empresários americanos investidores na economia do seu país para uma conversa mediada por Henry Kissinger. O diálogo foi franco e respeitoso.
Jiabao, delicadamente, fez ouvidos de bom mercador. Ele sabe o poder que tem a potencialidade do mercado interno chinês. Todos se queixaram, mas ninguém disse que sairá.
Em outra reunião, no mesmo dia, Wen disse tranquilamente que a China não busca "intencionalmente" os enormes superávits com os EUA e acrescentou que "não existe base para uma valorização drástica do yuan". E, em tom humilde, lamentou: "Vocês não sabem quantas empresas chinesas faliriam. Haveria sérias perturbações. Apenas o primeiro-ministro chinês (ele mesmo) sente essa pressão".
O pequeno problema é o seguinte: por que tantas empresas faliriam se houvesse a valorização do yuan se elas não estivessem vivendo sob a proteção do subsídio da desvalorização intencionalmente produzida pelo próprio governo?
A China, obviamente, não é uma economia de mercado, e sua organização é sustentada por um Estado-indutor apoiado numa competente burocracia (com grau normal de corrupção). O aparelhamento desse Estado pelo Partido Comunista Chinês se fez na tradição milenar.
No século 2 antes de Cristo, um imperador criou uma universidade para cooptar funcionários por concursos públicos, criar competência profissional e promovê-los pelo mérito. Ela tem objetivos claros.
Quem quiser aceitar suas regras fica, quem não quiser vai embora! Ela tem consciência do enorme poder de atração de seu mercado interno. Quem está disposto a perder as oportunidades que ele oferece?


ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.

contatodelfimnetto@terra.com.br


Texto Anterior: Rio de Janeiro - Ruy Castro: Caras
Próximo Texto: TENDÊNCIAS/DEBATES
João Sicsú: Números da distribuição de renda

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.