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ANTONIO DELFIM NETTO
Diálogo chinês
O governo chinês está dando sinais muito interessantes
de que deseja um diálogo mais
adequado com o setor privado
externo, que o ajudou e continua a ajudar a construir sua economia.
Este sente-se permanentemente ameaçado pela intensa
discriminação que sofre na competição interna promovida por empresas estatais, principalmente em relação à apropriação de suas tecnologias.
Agora mesmo, a Ford e a Toyota, que desejam participar
da indústria de carros elétricos na China (que deverá ser a
maior do mundo), só poderão
fazê-lo se se dispuserem a ceder gratuitamente a tecnologia (baterias, controles, motores etc.) que já desenvolveram
(e que custaram milhões de
dólares) às três empresas estatais chinesas que serão criadas para conquistar o mundo.
Quem quiser aceita. Quem
não quiser não precisa entrar.
A tecnologia será contrabandeada do mesmo jeito!
No dia 22 de setembro, o primeiro-ministro chinês, Wen
Jiabao, reuniu-se no Waldorf
Astoria de Nova York com
uma dezena de grandes empresários americanos investidores na economia do seu país
para uma conversa mediada
por Henry Kissinger. O diálogo
foi franco e respeitoso.
Jiabao, delicadamente, fez
ouvidos de bom mercador. Ele
sabe o poder que tem a potencialidade do mercado interno
chinês. Todos se queixaram, mas ninguém disse que sairá.
Em outra reunião, no mesmo dia, Wen disse tranquilamente que a China não busca
"intencionalmente" os enormes superávits com os EUA e
acrescentou que "não existe
base para uma valorização
drástica do yuan". E, em tom
humilde, lamentou: "Vocês
não sabem quantas empresas
chinesas faliriam. Haveria sérias perturbações. Apenas o
primeiro-ministro chinês (ele mesmo) sente essa pressão".
O pequeno problema é o seguinte: por que tantas empresas faliriam se houvesse a valorização do yuan se elas não
estivessem vivendo sob a proteção do subsídio da desvalorização intencionalmente produzida pelo próprio governo?
A China, obviamente, não é
uma economia de mercado, e
sua organização é sustentada
por um Estado-indutor apoiado numa competente burocracia (com grau normal de corrupção). O aparelhamento
desse Estado pelo Partido Comunista Chinês se fez na tradição milenar.
No século 2 antes de Cristo, um imperador criou uma universidade para cooptar funcionários por concursos públicos, criar competência profissional e promovê-los pelo mérito. Ela tem objetivos claros.
Quem quiser aceitar suas regras fica, quem não quiser vai
embora! Ela tem consciência
do enorme poder de atração
de seu mercado interno. Quem
está disposto a perder as oportunidades que ele oferece?
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às
quartas-feiras nesta coluna.
contatodelfimnetto@terra.com.br
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