São Paulo, quinta-feira, 13 de outubro de 2011

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Acordo possível

O aparente acordo para a libertação do militar israelense Gilad Shalit, sequestrado em 2006 pela facção terrorista Hamas, surge como um oportuno sinal favorável às negociações no conflagrado Oriente Médio.
Shalit deverá ser trocado por mais de mil prisioneiros palestinos sob a guarda de Israel, 315 deles condenados à prisão perpétua.
O retorno do militar coloca um ponto final num trauma para Israel. O sequestro de Shalit, aos 19 anos, veio simbolizar a ameaça do extremismo palestino contra todos os jovens do país -onde o serviço militar é obrigatório e duradouro.
Seria precipitado, no entanto, imaginar que esse pacto pontual venha a ampliar de imediato a possibilidade de um acordo de paz entre Israel e os palestinos.
As relações bilaterais vão mal. Israel acaba de reincidir na provocação inconsequente de anunciar novas construções de assentamentos em Jerusalém Oriental. A colonização judaica daquela que seria, num acordo justo de paz, a capital de ambos os Estados é um obstáculo difícil de ser removido.
A iniciativa do Fatah -facção moderada palestina que mantém relações atritosas com o Hamas- de buscar o reconhecimento de um Estado palestino na ONU tampouco ajuda na retomada imediata do diálogo. Embora legítima, foi interpretada em Israel como uma declaração dos palestinos de que deixaram de acreditar no caminho da negociação bilateral.
Paradoxalmente, e para piorar a situação, o acordo para a libertação de Shalit pode até fortalecer momentaneamente os polos mais radicais, envolvidos nas tratativas para a soltura do militar -a direita da coalizão do premiê Benjamin Netanyahu em Israel, e os fundamentalistas do Hamas.
Já num horizonte mais dilatado de tempo, o episódio do soldado israelense ajuda a matizar um pouco o pessimismo. Afinal, chegou-se ali a um meio-termo.
Embora muito mais difícil, uma negociação desarmada dos temas centrais -dois Estados nas fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias, de 1967; Jerusalém como capital de ambos; e alguma compensação aos refugiados palestinos- também poderá frutificar, quem sabe, ainda nesta década. Para o bem das duas populações, diga-se.


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