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CLÓVIS ROSSI
Dinheiro, sim; controles, não
SÃO PAULO - O velho sábio que
habitava esta Folha ficava indignado com os freqüentes pedidos de
"papai, mande dinheiro", como ele
designava os apelos do empresariado para que o governo os socorresse nos momentos de dificuldade (e,
a bem da verdade, até nos momentos de facilidade).
Não tivesse morrido, estaria estupefato ante a quantidade de "filhos" que pedem dinheiro a "papai-Estado". E mais ainda ante a facilidade com que o Estado abre os cofres, de que dão prova, apenas a mais recente, os governadores José
Serra e Aécio Neves.
O pior é que os "filhos" (no caso,
os bancos) não se arrependem nem
um tiquinho da overdose de ativos
tóxicos que ingeriram e os levaram
ao coma (e ao apelo a "papai").
Ao contrário. Comunicado do
Instituto de Finanças Internacionais, que reúne cerca de 350 dos
maiores bancos do mundo, louva os
pacotes oficiais de auxílio ao setor ,
mas afirma, em seguida, que tais
pacotes "não devem dar margem a
um papel mais amplo e permanente do setor público no sistema financeiro internacional".
Tampouco querem uma regulação que lhes impeça de beber demais, porque "ameaçaria as perspectivas de reativar o crescimento
da produção e dos empregos, ao
estender ineficiências nos mercados globais".
É uma desfaçatez fora do normal,
porque deixa de lado que foi o excesso de desregulação -e não o excesso de regulação- que causou a
presente "ineficiência" (quase colapso) dos mercados globais.
A propósito, meu cardiologista
-na verdade o médico da família, o
napolitano Giuseppe Dioguardi-
perguntava se depois de tanta doação de dinheiro público os governos ainda teriam coragem de negar
dinheiro para a saúde, como fazem
sistematicamente.
Ah, Beppe, santa ingenuidade.
Esse "filho", a saúde, não financia
campanhas eleitorais.
crossi@uol.com.br
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