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SÉRGIO MALBERGIER
Defendendo
George W.
A UNANIMIDADE em torno
da demonização de George
W. Bush torna o exercício de
defendê-lo irresistível, mesmo que
equivocado.
Bush assumiu a Casa Branca no
auge do poder americano e a entrega chamuscada depois dos dois "big
bangs" deste século: os ataques de
11 de setembro de 2001 (nove meses depois de sua posse) e o colapso
do sistema financeiro (quatro meses antes do fim do seu mandato).
Mas as duas explosões têm rastro em administrações passadas: o
infame ataque da Al Qaeda começou a ser executado ainda no governo Clinton, e o sistema financeiro que agora jaz começou a formar-se na administração Reagan.
A deposição do Taleban no Afeganistão, aquele que baniu as mulheres das escolas e dos hospitais e
executou opositores em praça pública, teve justo apoio global. Mesmo a invasão do Iraque para depor
Saddam Hussein, que massacrava
sem preconceito e aos milhares
curdos, xiitas e quaisquer opositores, tinha lá seu apelo libertário.
Mas os erros grotescos dos pós-guerras anularam qualquer percepção de ganho.
Com aprovação de só 24% dos
americanos, Bush diz, sem alternativa, que a história o julgará melhor. De fato, só agora, depois de
milhares de mortos e tragédias
inomináveis, pode-se ver a possibilidade (transformadora) de o Iraque tornar-se uma força democrática no coração do mundo árabe,
um enorme feito. Bush ganha ainda elogios do insuspeito diário esquerdista londrino "The Guardian": "Os US$ 15 bilhões do plano
presidencial americano de ajuda
foram saudados como uma "revolução" que está transformando o sistema de saúde na África e o mais
importante programa assistencial
desde o final do colonialismo".
Para o Brasil, Bush trouxe ganhos com suas boas relações com o
também desenvolto Lula. Seu governo (que só teve olhos para o
Oriente Médio e a Ásia) deu espaço
para Brasília exercer ainda mais
sua liderança unificadora numa
América do Sul que o petropopulismo chavista faz tudo para cindir.
Mas as razões para detestar Bush
parecem mais fortes: seu unilateralismo agressivo em plena globalização, seu belicismo inconseqüente e sangrento, sua irresponsabilidade fiscal, sua lassidão com os
mercados e as corporações, sua incitação ao conservadorismo religioso, seu antiintelectualismo...
Cerca de 12 mil americanos assinaram uma petição em San Francisco para rebatizar o esgoto da cidade de "George W. Bush". O presidente tornou-se a Geni do planeta.
Alguém que é alvo de tanto ódio
merece uma segunda avaliação.
Uma coisa alvissareira ao menos
podemos atribuir a George W.: a
eleição de Barack Obama. Sem a
Guerra do Iraque e sua inépcia
diante do colapso econômico, os
Obamas não estariam fazendo as
malas para a Casa Branca.
SÉRGIO MALBERGIER é editor de Dinheiro .
O colunista Kenneth Maxwell está de licença.
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