São Paulo, sexta-feira, 13 de novembro de 2009

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Editoriais

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Opção pelas trevas

Com temor de desgaste, Planalto tenta encerrar episódio do apagão sem que as causas estejam devidamente elucidadas

O BLECAUTE na virada de terça para quarta deixou ao menos 1.800 cidades, em 18 Estados, nas trevas. Deixou claro, porém, que o cálculo eleitoral, a paúra do desgaste político a menos de um ano do pleito, atropelou o direito da população de ser informada com exatidão e profundidade a respeito das causas da pane.
Dúvidas ponderáveis estão lançadas sobre a primeira versão oficial. É baixíssima a probabilidade de que um raio -ou vários, que seja- possa derrubar, simultaneamente, todas as três linhas de transmissão, independentes entre si, que conectam o Sudeste à maior hidrelétrica do país. O sistema triplo, com redundância portanto, foi projetado para não sucumbir a intempéries.
O serviço de detecção de descargas atmosféricas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) não corrobora a explicação do Planalto. Além disso, os gestores da rede elétrica nacional foram incapazes de impedir a propagação do problema, que prejudicou o abastecimento em todas as regiões, exceto o Norte.
Se algo se repete, em relação ao traumático racionamento de 2001, é o loteamento político do setor. O Ministério de Minas e Energia está entregue ao notório PMDB de Edison Lobão. O PT controla Itaipu. Enquanto uma sigla aliada inculpava a outra pelo apagão, a lógica marqueteira tirava do foco a aspirante ao Planalto, ministra Dilma Rousseff.
Mas, da mesma maneira que a gestão do sistema elétrico não conseguiu isolar a pane nas linhas de Itaipu, o isolamento da virtual candidata durou pouco. Responsável pela reformulação do modelo elétrico no primeiro mandato de Lula, a atual chefe da Casa Civil se viu obrigada a dar alguma satisfação nesta quinta.
"Você está confundindo uma coisa, minha filha", trovejou Dilma Rousseff contra a jornalista que a interpelava sobre sua recente promessa de que apagões eram página virada: "Nós prometemos é que não terá nesse país mais racionamento", consertou a ministra.
O governo Lula e Dilma Rousseff, é verdade, têm o que mostrar nesse quesito. Antes mesmo de o petista assumir iniciou-se um doloroso ajuste no setor, principiando pela construção a toque de caixa de usinas termelétricas, a fim de complementar o suprimento das hidrelétricas. Já na gestão Lula a rede de linhas de transmissão foi expandida 29%. Grandes hidrelétricas começaram a sair das pranchetas. O gargalo do gás natural vai sendo resolvido, com novas jazidas, construção de gasodutos e instalações para receber gás liquefeito importado.
Mas será que o apagão desta semana não terá revelado outro tipo de vulnerabilidade? Talvez no sistema de gerenciamento automático de cargas, talvez na manutenção das linhas, talvez na baixa proteção de trechos estratégicos das vias de transmissão? Por que, afinal, não se conseguiu confinar o problema, após o desligamento de Itaipu? Quanto é preciso investir para que o sistema reforce a proteção contra blecautes gigantescos?
É essa discussão, de suma importância para a sociedade, que o temor marqueteiro do Planalto pretende manter na escuridão.


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