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Opção pelas trevas
Com temor de desgaste, Planalto tenta encerrar episódio do apagão sem que as causas estejam devidamente elucidadas
O BLECAUTE na virada de
terça para quarta deixou ao menos 1.800 cidades, em 18 Estados,
nas trevas. Deixou claro, porém,
que o cálculo eleitoral, a paúra do
desgaste político a menos de um
ano do pleito, atropelou o direito
da população de ser informada
com exatidão e profundidade a
respeito das causas da pane.
Dúvidas ponderáveis estão
lançadas sobre a primeira versão
oficial. É baixíssima a probabilidade de que um raio -ou vários,
que seja- possa derrubar, simultaneamente, todas as três linhas
de transmissão, independentes
entre si, que conectam o Sudeste
à maior hidrelétrica do país. O
sistema triplo, com redundância
portanto, foi projetado para não
sucumbir a intempéries.
O serviço de detecção de descargas atmosféricas do Inpe
(Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais) não corrobora a explicação do Planalto. Além disso, os
gestores da rede elétrica nacional foram incapazes de impedir a
propagação do problema, que
prejudicou o abastecimento em
todas as regiões, exceto o Norte.
Se algo se repete, em relação ao
traumático racionamento de
2001, é o loteamento político do
setor. O Ministério de Minas e
Energia está entregue ao notório
PMDB de Edison Lobão. O PT
controla Itaipu. Enquanto uma
sigla aliada inculpava a outra pelo apagão, a lógica marqueteira
tirava do foco a aspirante ao Planalto, ministra Dilma Rousseff.
Mas, da mesma maneira que a
gestão do sistema elétrico não
conseguiu isolar a pane nas linhas de Itaipu, o isolamento da
virtual candidata durou pouco.
Responsável pela reformulação
do modelo elétrico no primeiro
mandato de Lula, a atual chefe da
Casa Civil se viu obrigada a dar
alguma satisfação nesta quinta.
"Você está confundindo uma
coisa, minha filha", trovejou Dilma Rousseff contra a jornalista
que a interpelava sobre sua recente promessa de que apagões
eram página virada: "Nós prometemos é que não terá nesse
país mais racionamento", consertou a ministra.
O governo Lula e Dilma Rousseff, é verdade, têm o que mostrar nesse quesito. Antes mesmo
de o petista assumir iniciou-se
um doloroso ajuste no setor,
principiando pela construção a
toque de caixa de usinas termelétricas, a fim de complementar
o suprimento das hidrelétricas.
Já na gestão Lula a rede de linhas
de transmissão foi expandida
29%. Grandes hidrelétricas começaram a sair das pranchetas.
O gargalo do gás natural vai sendo resolvido, com novas jazidas,
construção de gasodutos e instalações para receber gás liquefeito
importado.
Mas será que o apagão desta
semana não terá revelado outro
tipo de vulnerabilidade? Talvez
no sistema de gerenciamento automático de cargas, talvez na manutenção das linhas, talvez na
baixa proteção de trechos estratégicos das vias de transmissão?
Por que, afinal, não se conseguiu
confinar o problema, após o desligamento de Itaipu? Quanto é
preciso investir para que o sistema reforce a proteção contra blecautes gigantescos?
É essa discussão, de suma importância para a sociedade, que o
temor marqueteiro do Planalto
pretende manter na escuridão.
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