São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 2002

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MARCELO BERABA

Crime organizado

RIO DE JANEIRO - O que caracteriza o crime organizado não é apenas a formação da quadrilha, seu poder de fogo ou o tipo de crime que pratica. A principal marca é a capacidade de infiltração nos chamados poderes constituídos e de corrupção da máquina pública.
A prisão, nesta semana, pela Polícia Federal, de 23 pessoas que pertenceriam à quadrilha de Leonardo Dias Mendonça (inclusive dois advogados) e a suspeita tornada pública de que um deputado e vários juízes federais estariam envolvidos mostram, mais uma vez, a força do narcotráfico entre nós.
Não estamos falando do varejo desorganizado, operado pelos comandos violentos que dominam as favelas e o sistema penitenciário do Rio, mas de gente grande. Não estamos falando da corrupção barata e rotineira de policiais estaduais, mas da compra de funcionários federais.
No esquema descrito pela PF, Fernandinho Beira-Mar é apenas um distribuidor regional. Leonardo, sim, tem as conexões de redistribuição da cocaína para os mercados nacional e internacional (via Suriname).
Investigações feitas pelos Estados Unidos na Colômbia indicam que a dupla teve papel ativo numa operação que envolveu, em uma ponta, o esquema de contrabando de armas do Oriente montado por Vladimiro Montesinos, ex-assessor do ex-presidente do Peru Alberto Fujimori, e, na outra, as Farc, uma das guerrilhas de esquerda da Colômbia. Os brasileiros teriam financiado a compra das armas e teriam sido pagos com cocaína.
Embora a PF afirme que a quadrilha de Leonardo é a maior agindo no Brasil, é provável que seja apenas a mais conhecida. Apreensões importantes de drogas, como as efetuadas nos últimos dias pela própria PF, mostram que não apenas os esquemas são vários como são várias e desconhecidas as quadrilhas que operam de forma organizada.


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