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Batata quente
FALTOU ALGUÉM para defender o contribuinte na reunião entre representantes
da cultura e do esporte anteontem no Rio. Como ocorre com
freqüência nesses casos, quem
não esteve no encontro foi convidado a pagar a conta do desacerto entre as duas partes.
O motivo da mobilização repentina é o projeto de Lei do Esporte aprovado pela Câmara, que
aguarda apreciação dos senadores. O texto faculta às empresas
financiar atividades desportivas
utilizando parte do dinheiro que
deveriam destinar ao governo a
título de Imposto de Renda.
Trata-se de um mecanismo de
renúncia fiscal utilizado há mais
de uma década para custear
eventos culturais. Ocorre que há
limites para as empresas deduzirem patrocínios do IR (4% do tributo devido), limites que o projeto homólogo para o esporte deixa
intactos. Daí surgiu a reação de
atores, diretores e produtores
culturais: perceberam que os esportistas, na verdade, tentam
avançar sobre os fundos que têm
sido reservados à cultura.
Então resolveu-se fazer uma
reunião entre artistas, esportistas e os ministros das duas pastas. Discordaram em tudo, menos quando surgiu a proposta de
cobrar a fatura do cidadão que
paga impostos no Brasil. Querem
aumentar os limites de dedução
do IR para 8% -4% para cada setor e não se fala mais nisso.
Diante da oposição que a proposta certamente encontraria na
Fazenda encontrou-se nova vítima, depois de uma atribulada
sessão de lobbismo ontem no Senado. Um "acordo" na Casa estabeleceu que o esporte não vai
mais disputar recursos de renúncia fiscal com a cultura; vai
concorrer com o incentivo à inovação científica. O episódio explicita, em microcosmo, como é
irracional a resultante da disputa
por fundos públicos no país.
Ao feitio da brincadeira infantil da "batata quente", o ônus da
grita de artistas bem posicionados foi sendo empurrado até
"queimar" um setor desavisado e
por ora pouco articulado.
Entre todas as vítimas potenciais dessa brincadeira de mau
gosto, castigou-se justamente o
setor mais estratégico para o desenvolvimento do país e mais dependente de apoio estatal, que é
pesquisa e desenvolvimento.
É preciso restabelecer a racionalidade e o interesse público
nesse debate -e urgentemente.
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