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CLÓVIS ROSSI
Onde sonhar o sonho
MONTERREY - O jornal "Milênio de Monterrey" puxou ontem para sua
manchete a frase "o sonho americano não é para mexicanos", atribuindo-a ao presidente George W. Bush.
Exagero de interpretação. Bush assinalou apenas o que deveria ser normal: o sonho dos trabalhadores (no
caso, mexicanos) deveria realizar-se
no país de origem em vez de migrar
em quantidades industriais para os
Estados Unidos.
O normal, e não só para mexicanos,
deveria de fato ser a chance de viver
seus sonhos em casa.
Pena que o normal se tenha tornado crescentemente inalcançável, do
que dão provas a imensa comunidade turca que vive na Alemanha, a
norte-africana que foge para a França e para a Espanha e até os brasileiros de origem japonesa que inverteram a rota dos pais e avós e tentam a
sorte no Japão.
Por isso, a "over-interpretation" do
jornal mexicano acaba sendo cabível.
Mais do que nunca, os países em desenvolvimento estão dizendo, por
meio de leis restritivas, que o "sonho
americano" (ou europeu ou japonês)
não é para mexicanos, brasileiros,
africanos, árabes.
Mas nem palavras nem atos bastarão para conter a fuga para sonhar. É
óbvio (e é da essência do capitalismo)
que, se o dinheiro não vem a mim, eu
vou até onde está o dinheiro.
Por isso Bush está certo ao dizer, no
mesmo contexto que o levou a ganhar a manchete do "Milênio", que é
preciso expandir as oportunidades
econômicas nas regiões de origem dos
migrantes mexicanos.
Tarefa quase impossível: só 93 dos
municípios mexicanos não registram
emigração para os EUA.
Aí você acrescenta os emigrantes
brasileiros, africanos, árabes, sul-asiáticos e as comparativamente recentes levas da Europa Oriental e vê
que a receita, ainda que correta, será
insuficiente, mesmo que fosse de fato
implementada -o que não ocorre.
Só há uma conclusão possível: o sonho que resta a sonhar é o de políticas internas que permitam concretizar em casa o sonho americano ou
europeu ou japonês.
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