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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
A esperança do
povo crenaque
Numerosas famílias do povo
crenaque encontram-se na região entre Conselheiro Pena e Resplendor, no Estado de Minas Gerais.
Outras famílias estão em Mato Grosso
e vivem em união com os caingangues
e maxacalis, dispersos em várias aldeias. A concentração mais forte foi há
vários anos expulsa e obrigada a radicar-se longe de suas terras, que passaram a ser ocupadas por fazendeiros.
Aos poucos, e a duras penas, o povo
crenaque voltou para a área de origem, perto da região montanhosa de
Sete Salões, à margem do rio Doce.
A passagem da estrada de ferro por
suas terras, no início do século passado, veio trazer sofrimento e morte às
aldeias crenaque. Os sobreviventes
contam, ainda hoje, como os capangas atiravam dos vagões sobre os índios que tentavam impedir o uso da linha férrea. Morreram muitos, vítimas
desta violência. Outros fugiram para
escapar às incursões em seus territórios.
Após tantas vicissitudes, a construção da hidrelétrica de Aimorés causou
novas provações para os índios, alterando a piracema e a fartura de peixes
de que vivem as aldeias. O peixe era
não só alimento básico mas, conforme
os usos indígenas, oferecia remédio
para certas doenças -e permanece ligado à sua cultura religiosa. Os peixes
e o rio Doce pertencem à história e às
crenças indígenas, e qualquer operação no curso natural das águas atinge
a continuidade da vida dos índios.
Diante dos sofrimentos que vieram
marcando a história das aldeias crenaques, os índios foram se organizando
com o apoio de outras tribos -maxacalis, tupiniquins, pataxós e guaranis.
Após recorrerem, sem fruto, às autoridades, decidiram interromper a passagem do trem em suas terras, paralisando, no dia 1º de dezembro do ano
passado, todo o movimento da ferrovia que liga Itabira a Vitória, em detrimento não só dos passageiros como
do transporte de minério, causando
grande sobressalto e prejuízo para as
empresas.
Na sua reivindicação, os índios crenaques solicitaram o reconhecimento
da maior área de terra, incluindo a
montanha dos Sete Salões, território
sagrado para a tribo. Acrescentavam
duas exigências: a primeira, contra o
consórcio Aimorés, requerendo compensações pelos danos causados com
a construção da hidrelétrica e, a segunda, contra a Companhia Vale do
Rio Doce, relembrando os fatos cruéis
e o morticínio dos tempos de implantação da ferrovia.
A reivindicação foi acolhida pelas
autoridades para estudo e possível implementação, e os índios aceitaram
confiar na palavra e liberaram a passagem da ferrovia. Seguiram-se várias
reuniões entre a liderança crenaque,
liderada pelo cacique Rondon, e os
responsáveis pela Funai, pelo consórcio Aimorés e pela Companhia Vale
do Rio Doce, acompanhados também
por representes do governo de Minas
Gerais. O entendimento progride e há
esperanças fundadas de que as expectativas da tribo sejam progressivamente atendidas na base do diálogo e
da mútua compreensão. O povo crenaque quer viver e se desenvolver com
a garantia de respeito e apreço à sua
cultura. Seus direitos devem ser assegurados como ressarcimento a todas
as injustiças até hoje praticadas.
É louvável o atual procedimento dos
responsáveis, e pedimos a Deus que
chegue a bom termo e seja exemplo
para uma solução humanitária em casos semelhantes.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
@ - almendes@feop.com.br
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