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TENDÊNCIAS/DEBATES
SIM
Como melhorar a qualidade da educação?
NAÉRCIO MENEZES FILHO
A QUALIDADE da educação nas
escolas públicas brasileiras é
péssima. Grande parte dos alunos conclui a quarta série sem saber
fazer operações matemáticas simples. Mas como pode um estudante
brasileiro da rede pública ter aulas de
matemática praticamente todos os
dias letivos durante quatro anos e não
saber nem mesmo fazer operações de
multiplicação ou ler as horas em relógios de ponteiros? Ou os professores
não sabem que devem ensinar operações de multiplicação; ou sabem que
devem, mas não sabem como; ou não
aparecem para dar aulas; ou sabem,
aparecem, tentam ensinar, mas os
alunos não aprendem. A realidade
contém um pouco disso tudo.
Na verdade, parcela significativa do
aprendizado depende da estrutura familiar e da participação dos pais. Como o Brasil demorou para acordar para a importância da educação, os pais
dos alunos atuais passaram pouco
tempo na escola e não sabem como
ajudar os filhos a aprender. Logo, a tarefa dos professores fica bastante dificultada, pois grande parte dos alunos
atuais não consegue aprender.
Mas o que fazer, já que não podemos esperar o tempo passar até que
as novas gerações de famílias resolvam esse problema?
Já sabemos que a pedagogia "paz,
amor e esperança" não funciona. Ela
é muito bonita, como os livros de autoajuda, mas não ensina os alunos a
fazer as contas de matemática necessárias a seu futuro profissional. Logo,
os secretários têm que atuar diretamente sobre os fatores a seu alcance.
O governo federal teve uma boa iniciativa, ao lançar um novo índice de
qualidade da educação, o Ideb, e traçar metas para todos os municípios
até 2022. Mas o governo federal quase não tem escolas e, assim, tem poucas condições de ajudá-las a atingir as
metas, a não ser com distribuição de
recursos. E isso não basta. A tarefa está com os secretários da Educação.
Os secretários têm muito pouco a
fazer com relação à formação dos professores, que é muito deficiente.
Essa
tarefa cabe às faculdades de pedagogia, que passam muito tempo debatendo os grandes pensadores da educação e pouco tempo ensinando os
professores a dar aulas. A primeira
coisa a ser feita pelos secretários é estabelecer um currículo mínimo, para
que os professores saibam o que ensinar para cada série em cada semestre
-o que foi feito em São Paulo.
Mas isso também não basta. É necessário estabelecer um sistema de
incentivos, para atrair os melhores
professores e fazer com que eles sejam recompensados pelo seu esforço.
Se todos os professores receberem
o mesmo salário e bônus no final do
ano, a tendência é haver uma acomodação. Afinal, por que o professor vai
estar presente sempre e se esforçar
para dar boas aulas se, no final do ano,
ele vai receber o mesmo que seu colega que falta muito e não está preocupado com o aprendizado dos alunos?
Com relação aos professores temporários, sua própria existência é sinal de que alguma coisa está errada.
Afinal de contas, a rotatividade dos
professores é um dos fatores que mais
provocam a diminuição de aprendizado dos alunos. Mas, já que não há
um número suficiente de professores
concursados, que pelo menos a escolha dos temporários seja feita por
meio de uma prova, para que os alunos tenham aulas com os melhores
professores dentre os temporários.
Mas por que o sindicato de professores reage com tal veemência a propostas desse tipo? Basicamente, porque os sindicatos não estão preocupados com o aprendizado dos alunos,
mas com as condições dos professores que já estão na escola. Se novos (e
melhores) professores forem alocados para a sala de aula, o sindicato
perde parte de sua base de eleitores.
O ideal seria que a secretaria e o
sindicato atuassem em conjunto para
melhorar o desempenho dos alunos.
Mas, em algumas situações, os interesses da sociedade e os dos sindicatos caminham em direções opostas.
Nesses casos, as secretarias têm
que avançar muito lentamente, para
evitar as greves, acordando com os
sindicatos cada medida, de forma a
não prejudicar os seus interesses.
Quem perde com isso são as famílias
mais pobres e o Brasil como um todo.
NAÉRCIO AQUINO MENEZES FILHO , doutor em economia pela University College London (Inglaterra), é professor titular e coordenador do Centro de Políticas Públicas
do Ibmec São Paulo e professor da FEA-USP.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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