São Paulo, sábado, 14 de fevereiro de 2009

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TENDÊNCIAS/DEBATES

SIM

Como melhorar a qualidade da educação?

NAÉRCIO MENEZES FILHO

A QUALIDADE da educação nas escolas públicas brasileiras é péssima. Grande parte dos alunos conclui a quarta série sem saber fazer operações matemáticas simples. Mas como pode um estudante brasileiro da rede pública ter aulas de matemática praticamente todos os dias letivos durante quatro anos e não saber nem mesmo fazer operações de multiplicação ou ler as horas em relógios de ponteiros? Ou os professores não sabem que devem ensinar operações de multiplicação; ou sabem que devem, mas não sabem como; ou não aparecem para dar aulas; ou sabem, aparecem, tentam ensinar, mas os alunos não aprendem. A realidade contém um pouco disso tudo.
Na verdade, parcela significativa do aprendizado depende da estrutura familiar e da participação dos pais. Como o Brasil demorou para acordar para a importância da educação, os pais dos alunos atuais passaram pouco tempo na escola e não sabem como ajudar os filhos a aprender. Logo, a tarefa dos professores fica bastante dificultada, pois grande parte dos alunos atuais não consegue aprender.
Mas o que fazer, já que não podemos esperar o tempo passar até que as novas gerações de famílias resolvam esse problema? Já sabemos que a pedagogia "paz, amor e esperança" não funciona. Ela é muito bonita, como os livros de autoajuda, mas não ensina os alunos a fazer as contas de matemática necessárias a seu futuro profissional. Logo, os secretários têm que atuar diretamente sobre os fatores a seu alcance.

O governo federal teve uma boa iniciativa, ao lançar um novo índice de qualidade da educação, o Ideb, e traçar metas para todos os municípios até 2022. Mas o governo federal quase não tem escolas e, assim, tem poucas condições de ajudá-las a atingir as metas, a não ser com distribuição de recursos. E isso não basta. A tarefa está com os secretários da Educação. Os secretários têm muito pouco a fazer com relação à formação dos professores, que é muito deficiente.
Essa tarefa cabe às faculdades de pedagogia, que passam muito tempo debatendo os grandes pensadores da educação e pouco tempo ensinando os professores a dar aulas. A primeira coisa a ser feita pelos secretários é estabelecer um currículo mínimo, para que os professores saibam o que ensinar para cada série em cada semestre -o que foi feito em São Paulo. Mas isso também não basta. É necessário estabelecer um sistema de incentivos, para atrair os melhores professores e fazer com que eles sejam recompensados pelo seu esforço.
Se todos os professores receberem o mesmo salário e bônus no final do ano, a tendência é haver uma acomodação. Afinal, por que o professor vai estar presente sempre e se esforçar para dar boas aulas se, no final do ano, ele vai receber o mesmo que seu colega que falta muito e não está preocupado com o aprendizado dos alunos? Com relação aos professores temporários, sua própria existência é sinal de que alguma coisa está errada.
Afinal de contas, a rotatividade dos professores é um dos fatores que mais provocam a diminuição de aprendizado dos alunos. Mas, já que não há um número suficiente de professores concursados, que pelo menos a escolha dos temporários seja feita por meio de uma prova, para que os alunos tenham aulas com os melhores professores dentre os temporários.
Mas por que o sindicato de professores reage com tal veemência a propostas desse tipo? Basicamente, porque os sindicatos não estão preocupados com o aprendizado dos alunos, mas com as condições dos professores que já estão na escola. Se novos (e melhores) professores forem alocados para a sala de aula, o sindicato perde parte de sua base de eleitores. O ideal seria que a secretaria e o sindicato atuassem em conjunto para melhorar o desempenho dos alunos.
Mas, em algumas situações, os interesses da sociedade e os dos sindicatos caminham em direções opostas. Nesses casos, as secretarias têm que avançar muito lentamente, para evitar as greves, acordando com os sindicatos cada medida, de forma a não prejudicar os seus interesses. Quem perde com isso são as famílias mais pobres e o Brasil como um todo.

NAÉRCIO AQUINO MENEZES FILHO , doutor em economia pela University College London (Inglaterra), é professor titular e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Ibmec São Paulo e professor da FEA-USP.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br


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