São Paulo, domingo, 14 de fevereiro de 2010

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CARLOS HEITOR CONY

Mil palhaços no salão

RIO DE JANEIRO - Num dos flashes da TV, vi um cidadão baiano, de seus 35 a 40 anos, forte, alegre, declarar que trocara as férias para ter o direito de passar os quatro dias de plantão na Praça Castro Alves, pulando atrás (e à frente e aos lados) de todos os trios elétricos que passavam. Alimentação desses quatro dias: cerveja e acarajé. Descanso: no intervalo de um trio e outro, o cara deitava em qualquer canto e dormia, com o luminoso sol da Bahia abençoando sua carne fatigada e seus sonhos de folião.
Creio que no Rio, e em outras urbes carnavalescas, existirão muitos desses rapazes, homens e donzelas.
Evoé para eles! São os santos do Carnaval, os que brincam por alegria, por necessidade lúdica e humana, sem a peçonha da luxúria, sem reivindicação social ou artística.
Brincam intransitivamente, como quando se diz "chove". Infelizmente, esses tipos vão rareando. No Rio -e falo mal da cidade com bastante sapiência- o Carnaval ficou emplastado, massificado no pior sentido: o da mesmice. Parece que o chamado "Carnaval de rua" está voltando, vamos ver se pega para ficarmos livres da hegemonia das escolas de samba.
O raciocínio que faço é: de uma forma ou outra, samba serve para o ano todo, para as festas de formatura, os bailes de debutantes, é um gênero como a valsa ou o fox. Já a marchinha encontra sua "finest hour" no dias de Carnaval, seja nas ruas ou nos salões onde mil palhaços se encontram.
Não é à toa que o símbolo musical do Carnaval, a trilha sonora da orquestra quando abre ou encerra qualquer baile carnavalesco, são duas peças antológicas: "Cidade Maravilhosa" e "O Teu Cabelo Não Nega", esta, por sinal, um frevo dos Irmãos Valença que Lamartine Babo adaptou para marchinha.


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