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CARLOS HEITOR CONY
Mil palhaços no salão
RIO DE JANEIRO - Num dos flashes da TV, vi um cidadão baiano, de
seus 35 a 40 anos, forte, alegre, declarar que trocara as férias para ter
o direito de passar os quatro dias de
plantão na Praça Castro Alves, pulando atrás (e à frente e aos lados)
de todos os trios elétricos que passavam. Alimentação desses quatro
dias: cerveja e acarajé. Descanso: no
intervalo de um trio e outro, o cara
deitava em qualquer canto e dormia, com o luminoso sol da Bahia
abençoando sua carne fatigada e
seus sonhos de folião.
Creio que no Rio, e em outras urbes carnavalescas, existirão muitos
desses rapazes, homens e donzelas.
Evoé para eles! São os santos do
Carnaval, os que brincam por
alegria, por necessidade lúdica
e humana, sem a peçonha da luxúria, sem reivindicação social ou artística.
Brincam intransitivamente, como quando se diz "chove". Infelizmente, esses tipos vão rareando. No
Rio -e falo mal da cidade com bastante sapiência- o Carnaval ficou
emplastado, massificado no pior
sentido: o da mesmice. Parece que o
chamado "Carnaval de rua" está
voltando, vamos ver se pega para ficarmos livres da hegemonia das escolas de samba.
O raciocínio que faço é: de uma
forma ou outra, samba serve para o
ano todo, para as festas de formatura, os bailes de debutantes, é um gênero como a valsa ou o fox. Já a
marchinha encontra sua "finest
hour" no dias de Carnaval, seja nas
ruas ou nos salões onde mil palhaços se encontram.
Não é à toa que o símbolo musical
do Carnaval, a trilha sonora da orquestra quando abre ou encerra
qualquer baile carnavalesco, são
duas peças antológicas: "Cidade
Maravilhosa" e "O Teu Cabelo Não
Nega", esta, por sinal, um frevo dos
Irmãos Valença que Lamartine Babo adaptou para marchinha.
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