São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

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Nova agenda


Presidente do G20, França pretende que segurança alimentar e regulação do mercado de commodities sejam debatidos pelo grupo


Na próxima semana ocorrerá a primeira reunião do ano do G20, grupo de países criado em 1999, que ganhou maior relevância a partir da crise financeira global de 2008. Sob presidência rotativa da França, o encontro reunirá ministros das finanças e presidentes dos bancos centrais dos países membros. Terá caráter preparatório para o encontro político dos chefes de Estado, que normalmente ocorre em abril.
Como é usual, o país na liderança tem a prerrogativa de apresentar uma agenda para dar continuidade ao trabalho em andamento e introduzir novos temas.
Em 2010, o debate da regulação financeira, provocado pela crise, esteve presente como preocupação de fundo, mas ao longo do ano os fatos acabaram por pautar cada encontro. Em abril, as dificuldades financeiras europeias trouxeram à luz a importância de ajustes fiscais; já em outubro, as atenções voltaram-se para os problemas cambiais oriundos da política monetária americana e dos controles da moeda chinesa.
Agora, a França procura atrair o debate para dois tópicos principais, além dos desajustes das taxas de câmbio: reforma do sistema monetário internacional e segurança alimentar, com ideias para reduzir as oscilações dos preços das commodities. O presidente francês, Nicholas Sarkozy, quer que o G20 "se atreva a sonhar".
A questão cambial depende de maior coordenação entre os principais países, essencial para reduzir os desequilíbrios globais e o risco de crises. Não se devem nutrir ilusões, no entanto. Apesar da possibilidade de cooperação, os interesses das maiores potências definirão, como sempre, limites à agenda multilateral.
Um eventual questionamento do superavit comercial chinês, por exemplo, sempre será visto por aquele país como intromissão indevida em sua soberania. O mesmo ocorre com os EUA, que jamais aceitarão interferências externas em sua política monetária.
É natural, contudo, esperar que o yuan ganhe proeminência nas transações internacionais ao longo do tempo. Especialistas consideram provável um cenário em que o dólar irá dividir seu papel atual com o euro e a moeda chinesa -embora o prazo para que isso ocorra deva ser medido em anos e não em meses. Por ora, portanto, não se deve esperar mais do que declarações de intenções no G20.
Quanto às commodities agrícolas, as intenções da França não estão claras. A ideia seria conter especulações com preços, mas a divisão entre produtores e consumidores é evidente e dificilmente haverá acordos mais abrangentes.
O governo brasileiro dá sinais de que assumirá posições caso a caso no debate dessa agenda -o que é correto. O país tem mantido as críticas aos impactos negativos da política monetária frouxa dos EUA e também já vai se posicionando de forma mais firme em relação à manipulação cambial chinesa. Sobre o tema das commodities, o Brasil é um grande beneficiado pela elevação das cotações -e obviamente não irá comprometer-se com medidas que possam ameaçar essa posição.


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