São Paulo, domingo, 14 de março de 2004

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Água, a grande riqueza do país

Lembro-me muito bem das aulas do curso primário, quando minha professora discorria sobre as principais riquezas do mundo -diamante, ouro e prata. Mais tarde, os escritos de Monteiro Lobato ressaltaram o petróleo como o bem mais precioso da humanidade. Hoje, é a água.
Apesar de o Brasil possuir água em abundância, o problema já bate às nossas portas. Na capital de São Paulo, a situação é dramática. Tivemos um verão com chuvas torrenciais. As ruas se inundaram, mas as torneiras ficaram secas. O sistema Cantareira, que abastece 9 milhões de pessoas, tem reservas de apenas 17%, quando o normal é 40% -menos da metade.
O fato é simples. A população cresceu, e as reservas decresceram. O investimento necessário para recuperá-las pelo sistema convencional é monumental. Fala-se em R$ 5,5 bilhões.
O drama da água não atinge só a capital de São Paulo. Neste verão chuvoso, 96 municípios do Rio Grande do Sul amargaram uma das mais terríveis secas, o que afetará o seu desempenho agrícola em 2004.
Os exemplos se sucedem. O problema da falta de água é mundial. Quando se olha para os grandes números, a água da Terra é abundante. Mas, quando se subtrai o que evapora na atmosfera, o que está no mar e o que forma as geleiras, a disponibilidade de água doce cai para apenas 2,5% e, mesmo assim, a maioria é inacessível -está nas calotas polares. O que sobra, para uso imediato, é apenas 0,3%.
Mas Deus é brasileiro. Os chamados "aqüíferos" possuem uma quantidade de água monumental. Os governos deveriam dar alta prioridade à exploração desses depósitos. O aqüífero Guarani, o mais importante para o hemisfério Sul, só no Brasil possui cerca de 43 mil km3 de água. É uma enormidade, que daria para abastecer cerca de 450 milhões de pessoas. Somos ou não somos privilegiados?
Infelizmente, esse potencial tem sido ignorado. Os governos têm se concentrado na exploração de outras alternativas de água, incertas e onerosas. Em São Paulo, por exemplo, cogita-se construir uma adutora para trazer água do vale do Ribeira que custaria cerca de R$ 1,5 bilhão. Por que não explorar o gigantesco aqüífero Guarani que está à disposição dos paulistas?
Está na hora de nossos administradores darem menos ouvidos aos burocratas e mais atenção aos pesquisadores. Os estudos sobre os aqüíferos estão muito adiantados (Aldo da C. Rebouças e colaboradores, "Águas Doces no Brasil: Capital Ecológico, Uso e Conservação", editora Escrituras, São Paulo, 2002).
O Brasil tem uma situação privilegiada no que tange à "recarga" dos aqüíferos -ou seja, o tempo para enchê-los. Nos Estados Unidos, a recarga é lenta; no Brasil é rápida, sendo que o estoque atual tem uma vida útil estimada em cerca de 300 anos!
O que estamos esperando para explorar essa riqueza?


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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