São Paulo, domingo, 14 de março de 2004

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PAINEL DO LEITOR

Atentado na Espanha
"O desequilíbrio brutal entre forças hostis envolvidas em conflitos é o causador da deterioração profunda dos meios de combate. No auge da Guerra Fria, as regras foram preservadas, em grande medida, pelo "equilíbrio do terror atômico". Esse equilíbrio foi abalado e finalmente anulado após o desmantelamento da União Soviética. Na ausência de uma potência geradora de equilíbrio, a resposta para a atividade agressiva dos Estados Unidos e de seus aliados serão ataques realizados por indivíduos, principalmente suicidas, contra alvos públicos sensíveis, em locais repletos de pessoas. Nenhuma luta baseada na coordenação máxima entre os serviços de segurança dos governos condutores do mundo, segundo Amatzia Baram, da Universidade de Haifa (Mundo de anteontem, pág. A16), evitará futuros atos terroristas baseados em atividades clandestinas. Não se deve ver nestas reflexões uma justificativa para atos de terror, mas sim um protesto contra o modo escolhido para combatê-los, que mais e mais lembra o ressurgimento das Cruzadas. Em vez de utilizar cinicamente eventos trágicos como o atentado de Madri para a continuação da escalada do conflito, deve-se refletir quanto à desigualdade, o principal fator que transforma o mundo em um monumental matadouro."
Gershon Knispel, artista plástico (São Paulo, SP)
 

"Mundo estranho este em que vivemos. Antes, quando havia a bipolaridade institucional e a ameaça de uma guerra nuclear que poderia destruir todo o mundo de uma única vez, vivíamos muito mais tranqüilos e sossegados. Hoje, num mundo "unipolar" e sem a ameaça da guerra nuclear, perdemos a paz; vivemos intranqüilos e assustados. Na verdade, o mundo é multipolar, de forma não-institucional. De um lado, Estados legais agem clandestinamente, através da mentira, da espionagem e do desrespeito ao ordenamento jurídico internacional. De outro, grupos agem ameaçando, com o poder do terror, não a destruição de toda a humanidade, mas de centenas de vidas, entre as quais ninguém quer estar incluído. Talvez a idéia de destruição total nos cause menos desconforto do que a possibilidade de sermos "apenas" as próximas vítimas."
Darcio de Souza (São Paulo, SP)

Governo Lula
"Durante o discurso do presidente Lula no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o "Jornal Nacional" captou um instante mágico: na platéia, o banqueiro Roberto Setubal com um sorriso maroto e satisfeito. Pudera: quando Qfalava sobre os juros, Lula disse que, apesar de altos, eles só poderiam cair quando o país retomasse a credibilidade (?). Se fosse no tempo da oposição, seu discurso seria algo como "neste país banqueiro nenhum vai enriquecer à custa da miséria do povo e da falência do setor produtivo". Quem se vendeu? Os banqueiros, que no passado abominavam Lula, ou o presidente, por causa das contribuições de campanha dos bancos?"
Fábio Luiz Silveira (São Paulo, SP)
 

"José Serra classificou de "patética" uma nota do PT e condenou o partido por não apoiar uma CPI. Patético é essa cobrança vir justamente do presidente do partido que é o campeão em enterrar CPIs. A própria Folha mostrou isso no texto "Em SP, PSDB barrou 38 CPIs na Assembléia" (Brasil, página A4 de 10 de março)".
Ana Höfner (São Paulo, SP)
 

"A carta do leitor Washington Luiz de Araújo ("Painel do Leitor" de 10/3) permite duas considerações sobre o comportamento desta Folha em relação ao governo do PT. Realmente, o texto "A mídia e o PT", do (brilhante) articulista Clóvis Rossi, foi egocêntrico. Mas isso não invalida o conteúdo ou mesmo a forma da cobertura feita pelo jornal. Comparar a situação atual com o caso da cobertura da Folha no governo Collor é demais. Mas está bastante claro que o PT está perdido, sem plano de governo ou pessoas competentes para executar o que quer que seja. Parece-me, aliás, que não apenas a Folha, mas todos os meios de comunicação e imprensa têm sido condescendentes ao extremo com esse partido. Após 15 meses, nada de bom foi feito; apenas se revelou uma faceta demagógica, populista, inepta e corrupta de um partido que sempre se considerou o paladino da ética e da moral. Cabe ao jornal e a seus articulistas continuar o trabalho investigativo, de maneira que possamos diminuir o percentual da população que nunca sequer ouviu falar sobre o "Waldogate", conforme pesquisa recente do Datafolha."
Carlos Eduardo Machado Munhoz (São Paulo, SP)

Caso Celso Daniel
"A cobertura que a Folha vem fazendo do caso Celso Daniel torna-se, a cada dia, mais e mais exemplo de mau jornalismo. Apesar de novos fatos estarem, no mínimo, colocando em dúvida a tese de crime político defendida pelo Ministério Público, em confronto com o resultado das investigações feitas pela Polícia Civil, o jornal insiste em sonegar ao leitor uma visão geral e imparcial do caso. O fato de os depoimentos dos integrantes da quadrilha da favela Pantanal ouvidos até agora pela Justiça terem afirmado desconhecer o empresário Sérgio Gomes da Silva, acusado de ser o mentor intelectual do crime, foi simplesmente omitido. O jornal também não tem levado em conta que os acusados, à exceção do empresário, estão sendo defendidos por advogados pagos pelo Estado, que não estão acompanhando o caso nem atendendo efetivamente seus clientes. É fato que em 11/3 (Brasil, pág. A10), em matéria telegráfica, o jornal registrou o depoimento do preso conhecido como John, o qual deixa claro que a quadrilha não sabia que seqüestrava o prefeito de Santo André. Tudo teve uma grande dose de casualidade que o jornal insiste em não levar em conta. Lamentável!"
Heitor Lenival Souza (São Paulo, SP)

Educação
"É difícil encontrar desconhecimento maior da universidade do que o revelado pelo ministro da Educação, Tarso Genro (Cotidiano, 11/3, pág. C4), para quem a estrutura universitária "departamentalizada" fragmenta o debate científico. "Departamentalização" não tem nada a ver com pesquisa. Se, por exemplo, um pesquisador de Curitiba tem interesses em comum com um pesquisador de Glasgow, dispõe do correio eletrônico e do avião para escolher e mostrar seus resultados num congresso em Lisboa. O que seu departamento teria a ver com isso? Se há custo, não é o departamento que paga, e sim agências como o CNPq."
Milan Trsic (São Carlos, SP)

Consumo de água
"É preciso dar crédito às boas ações públicas. A Sabesp vai conceder desconto de 20% para quem economizar água. Ótimo. Eu também não quero racionamento de água. Entretanto ninguém perguntou ao governador Geraldo Alckmin quem vai pagar a conta dos milhões que a empresa de capital privado, com controle do Estado, vai deixar de arrecadar. Os acionistas? Claro que não. Mais uma vez, como no racionamento de energia elétrica, a população é quem vai ratear esse montante. É só esperar o aumento da taxa -depois das eleições, é claro."
Stephania Mello (Santo André, SP)



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