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Os alquimistas
A proposta do fim da reeleição não esconde a motivação personalista e prejudica a estabilidade das regras democráticas
GOVERNO e oposição entram em entendimentos na questão da reforma política. A notícia poderia ser boa. É na verdade
péssima. Longe de dizer respeito
a novos mecanismos de aperfeiçoamento da democracia no
país, o que leva tucanos como José Serra e Jutahy Magalhães a
acertar o passo com os petistas
Jaques Wagner e Tarso Genro é
uma proposta requentada e casuística.
Negocia-se o fim da reeleição
para os cargos no Executivo, e o
aumento dos mandatos para cinco anos. Argumentos teóricos
podem ser invocados, sem dúvida, para se condenar o princípio
da reeleição. O debate teve o seu
momento em 1997, quando se
optou por conceder ao então
presidente Fernando Henrique
Cardoso a possibilidade de disputar um segundo mandato. Sabe-se em que ambiente de escândalo e negociata, aliás, o Congresso tomou aquela decisão.
Não há evidência, todavia, de
que o instituto da reeleição tenha tornado menos democráticas as instituições políticas brasileiras. Ao contrário, oferece-se
ao eleitor a oportunidade de reconduzir ao poder, por uma vez,
o governante que conta com a
sua aprovação. Esse direito, que
o cidadão é livre para exercer ou
não, ser-lhe-ia cassado pela nova
proposta.
De resto, nada garante que,
uma vez extinta a reeleição, algum presidente no futuro não
queira reinstituí-la, se contar
com popularidade para tanto.
Diante do risco de vaivéns sem
fim, importa zelar por um mínimo de estabilidade nas regras democráticas. Devem ser apoiadas,
naturalmente, as mudanças que
fortaleçam a representatividade
dos eleitos, a estrutura partidária e o controle da sociedade sobre o Estado.
Mas isso não significa transformar o sistema político brasileiro
num laboratório em que destilações de composição suspeita e
vagas poções de longa vida sejam
feitas e desfeitas, ao sabor de interesses conjunturais.
PT + PSDB = Lula + (Serra ou
Aécio) = 2015. A essa equação, de
simples leitura mas de validade
ainda indefinida, resume-se, na
prática, a receita em curso. Extinta a possibilidade de reeleição
do próximo presidente, estariam
abertas para Lula as condições
de voltar ao poder depois de cinco anos. Eliminada a hipótese de
um único tucano prolongar por
mais de um mandato sua estadia
no Planalto, acomodam-se, até
segunda ordem, as rivalidades
internas do PSDB.
Uma névoa de aspecto pouco
respirável escapa das retortas tucano-petistas, a que o ministro
da Justiça, Tarso Genro, acrescenta borrifos de entusiasmo democrático, e que o tucano Jutahy
Magalhães vem colorir de antídotos quanto a um eventual continuísmo de Lula já em 2010.
Até agora não se produziu fumaça bastante, contudo, para
toldar a transparência da operação. É certo que o engenho de
tantos alquimistas reunidos não
deve ser menosprezado. São
sempre capazes de turvar ainda
mais, conforme lhes convém, as
poucas regras claras em que se
baseia a democracia brasileira.
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