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ALBA ZALUAR
Grande Irmão Brasil
AS CENAS foram estarrecedoras desde o início. A tortura da menina Isabella e a
sua morte, sem nenhuma chance
de defesa para quem tinha apenas
cinco anos, ficaram marcadas na
memória de todos. O que se seguiu
foram imagens dignas de um "Big
Brother Brasil".
O julgamento de acusados, segunda a legislação vigente, tem rituais próprios e deve seguir regras
de conduta de todos os atores para
que haja segurança quanto à decisão final de serem culpados ou inocentes. Ela se dá no tribunal de júri
e, se for bem feita, aprimora a cultura jurídica de toda a nação.
O que vimos foi mais que afobação nas cenas gravadas todos os
dias, de manhã, de tarde e de noite
para o Grande Irmão. Foi o açodamento na condenação dos dois
principais acusados pela platéia
que agia segundo impulsos emocionais característicos do comportamento de multidão. Mas alimentados por declarações de promotores, testemunhas e alguns policiais
sobre o andamento do processo.
A mídia virou o tribunal. A imprensa cobra o que resta a esclarecer como se fosse ela o veículo para
elucidar o crime bárbaro cometido.
Estamos diante do espetáculo-drama midiático que se apropriou da
proclamação de justiça e que vende. Não se surpreendam se houver
uma pesquisa on-line ou telefônica
para saber quantos condenam os
acusados. Com percentual e tudo.
Pior, muito pior, é o que acontece nos becos e antros das favelas e
periferias das cidades ou nos ermos do território brasileiro, sem
imprensa, sem polícia, sem Justiça.
Crimes assim, ou até muito menos
graves, podem ser seguidos por julgamentos ainda mais apressados,
que resultam na morte dos acusados. Os dados de pesquisas feitas
no Núcleo de Estudos da Violência
da USP por Nanci Cárdia e Sergio
Adorno mostram como tais execuções assassinaram pessoas inocentes na maior parte das vezes.
E isso não se dá apenas no tribunal do tráfico, que existe e já foi registrado há pelo menos três décadas neste país, embora mais freqüentemente depois que os comandos conseguiram dominá-lo.
Existe principalmente nas várias
formas de grupo de extermínio,
uma das quais é a milícia, nome genérico de diferentes arranjos vicinais de segurança privada. Muitas
vezes não é nem via um grupo organizado. É a simples fúria popular
que pega pedras e paus para linchar
os suspeitos, fazendo justiça pelas
próprias mãos.
Era por essa justiça que o populacho clamava na porta da delegacia? Se for, este é o nosso maior
problema, ainda por solucionar.
Já vimos esse filme várias vezes.
E ainda não conseguimos nos livrar do seu horror.
ALBA ZALUAR 0 escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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