São Paulo, domingo, 14 de maio de 2006

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CLÓVIS ROSSI

Montanha-russa

VIENA - Política, pelo menos a brasileira, virou montanha-russa para o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. Num dia, fica lá em baixo, pisoteado até por Evo Morales, presidente do mais pobre país da América do Sul, a Bolívia. No dia seguinte, dá um suspiro de alívio, quando Morales se retrata de A a Z.
Mas é só amanhecer um novo dia para a montanha-russa subir e descer violentamente. Subiu, a favor de Lula, quando Morales, ao sair de um encontro com o presidente brasileiro, completou a sua retirada desorganizada anunciando até que vai jogar futebol com Lula em iminente visita ao Brasil.
Mas, minutos depois, o carro da montanha-russa desceu em alta velocidade, empurrado pelo noticiário da revista "Veja" a respeito de supostos depósitos no exterior em contas não só do presidente mas de auxiliares e ex-auxiliares que são ou foram grife da gestão Lula.
Pode ser tudo uma invenção de Daniel Dantas, a fonte da reportagem, querendo vingar-se de Lula porque, conforme a Folha informara dias atrás, o presidente, em pessoa, investiu contra o Opportunity de Dantas na disputa pela Brasil Telecom.
Ao contrário do mensalão e dos dólares na cueca, fáceis de entender e até de representar graficamente, o caso Opportunity e, agora, os supostos depósitos são, ao mesmo tempo, difíceis de explicar e quase impossíveis de desmentir, no segundo caso.
Cai-se na mesma situação de que se queixou o então presidente Fernando Henrique Cardoso quando surgiu a história da conta dele e de outros três graduados tucanos em Cayman. FHC dizia, com razão, que pode ser fácil demonstrar que alguém tem uma conta em tal ou qual lugar porque há um papel a esse respeito. Mas não há papel que diga que alguém NÃO tem conta aqui ou ali.
Lula, que não quis, como candidato, explorar o caso Cayman (não acreditou na papelada), se vê agora obrigado a explicar situação similar. A montanha-russa é implacável.


@ - crossi@uol.com.br


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