São Paulo, sábado, 14 de maio de 2011

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Fissuras na base

A presidente Dilma Rousseff começou seu governo com o apoio de mais de dois terços na Câmara e mais de três quartos no Senado. Não demorou um semestre para essa enorme maioria ser posta em dúvida, com a batalha inconclusa sobre o Código Florestal.
O pivô da insegurança com a base do Planalto, como em ocasiões anteriores, é o PMDB. Com seus 79 deputados federais (só nove a menos que o PT) e 19 senadores (quatro a mais que os aliados), o partido do vice-presidente, Michel Temer, participa agora de articulações para emperrar a votação de uma medida provisória de interesse do governo, que abranda exigências de fiscalização para obras da Copa e da Olimpíada.
A medida provisória precisa ser aprovada até o dia 1º de junho. O Planalto havia feito acordo no Congresso para a votação ocorrer só após a do código.
Diante da perspectiva de uma derrota de alto impacto simbólico no confronto florestal, inclusive para a imagem do país no exterior, o governo se viu obrigado a suspender a votação, na noite de quarta-feira. A oposição precisava de 257 apoios para manter o tema em pauta, mas só reuniu 177.
Contrariaram a liderança do governo na Câmara 16 deputados do PMDB. Um nível de evasão bem menor que o de outros partidos da base, como PP e PR, onde quase metade das bancadas se rebelou.
Bem diverso teria sido o resultado caso o código fosse a voto. Os ruralistas parecem ter apoio suficiente para aprovar um afrouxamento significativo da lei de preservação. PSDB e DEM, por exemplo, apoiam a reversão até de dispositivos consagrados no governo Fernando Henrique Cardoso, quando estavam no poder.
Não se devem extrair conclusões muito alarmantes do episódio do código, contudo. A questão ambiental desencadeia clivagens no Congresso que não se confundem com as linhas de separação entre partidos, nem mesmo com a que opõe governo e oposição.
Na votação do salário mínimo, em fevereiro, Dilma havia mostrado toda sua força ao colher 361 votos favoráveis. Um escore assim talvez não se repita, mas isso não significa que o governo enfrentará obstáculos sérios no Congresso.
É certo, porém, que terá de reforçar o balcão de negociação.


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