|
Próximo Texto | Índice
Pintados e lambaris
Ao criticar a antes louvada PF no caso que enredou seu irmão e seu compadre, Lula transmite uma mensagem ruim
AO PERSEGUIR um cardume de pintados, a Polícia Federal fisgou um
lambari -um lambari
especial, posto que irmão do presidente da República. As informações disponíveis até agora são
condizentes com o status de Genival Inácio da Silva na alegoria
composta pelo presidente Lula,
um amante da pesca.
Em conversas entre articuladores de negociatas flagrados na
Operação Xeque-Mate, Genival é
considerado um diamante bruto
do lobby, com potencial de facilitar a abertura de portas no Executivo, desde que bem conduzido. "Vavá [como é conhecido] é
uma pessoa que você tem que direcionar", disse um agenciador
de caça-níqueis em conversa gravada com autorização judicial.
Já Dario Morelli, compadre de
Lula com amplo trânsito no PT,
"é outra linhagem", como se diz
nos grampos. Está mais para a
estirpe dos pintados -em adaptação livre do piscoso universo
metafórico presidencial aos indícios levantados pela polícia. A
despeito do que o desenrolar das
investigações venha a revelar, registre-se mais uma vez a impressionante capacidade que têm
amigos, parentes e correligionários próximos de Lula de meter-se em enroscos com a lei.
No episódio da Operação Xeque-Mate, o ministro da Justiça
afirmou ter contado a Lula sobre
o envolvimento de seu irmão horas antes de deflagrada a diligência -atitude que suscitou muitas
críticas ao governo. Mas as falhas
no controle de informações sigilosas não decorreram necessariamente dessa comunicação
prévia, se é que ela ocorreu, entre
Tarso Genro e Lula.
O presidente da República é o
chefe do governo, ao qual está
subordinada a Polícia Federal.
Deve ser alertado sobre ações da
PF que venham a expor seus familiares, caso da busca na casa de
Genival. Trata-se de situação típica em que mal se distingue a
pessoa física da instituição que
ela representa. O que o presidente está impedido de fazer, sob pena de incorrer em crime de responsabilidade, é valer-se da informação privilegiada e das prerrogativas do cargo para obstar as
investigações policiais.
Preocupantes são os indícios, a
esta altura bastante convincentes, de que investigados foram
avisados com antecedência sobre a monitoração da PF. O governo deve um esclarecimento
rápido sobre a origem desse vazamento criminoso.
Inoportunas e estranhas também soaram as críticas feitas na
terça-feira por Lula à atuação da
Polícia Federal no caso. Queixas
contra os grampos e sua divulgação por delegados em conflito interno vieram de quem passou
quatro anos a louvar -com direito ao bordão "nunca antes na história" e seus variantes- a emancipação investigativa da PF.
Seria apenas mais uma demonstração do comportamento
errático de Lula se não transmitisse uma mensagem institucional ruim -uma ameaça velada
de intervenção para "enquadrar"
o órgão policial.
Próximo Texto: Editoriais: Radicais em guerra
Índice
|