São Paulo, sábado, 14 de junho de 2008

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MELCHIADES FILHO

O tempo e o vento

BRASÍLIA - É enorme a tentação de estabelecer um link entre 2008 e 2010, achar que os próximos dois anos estão amarrados de ponta a ponta e antecipar já o desenho do pós-Lula. Estas eleições municipais de fato têm um peso estratégico maior do que o habitual, e os atores teimam eles próprios em adiantar os bois -sem falar que gostamos todos de palpitar. Mas seria bom lembrar que o Imponderável de Almeida também joga na política.
Em boa medida, foi o acaso que fez de Dilma Rousseff a favorita de Lula à sucessão. No fim de 2002, o Ministério de Minas e Energia estava reservado ao PMDB. Em cima da hora, porém, o presidente rasgou o acordo costurado por Zé Dirceu e, sem nomes à mão, escolheu a neopetista que havia se destacado na equipe de transição. Os peemedebistas só obteriam o cargo dali a três anos, quando a dama de ferro já distribuía ordens na Casa Civil.
Outro exemplo aconteceu em Belo Horizonte. Aécio Neves e o prefeito Fernando Pimentel apostavam em Walfrido dos Mares Guia. O ministro do Turismo era amigo de todos (de Lula, principalmente), tinha respaldo do grande capital e não estava nem no PSDB nem no PT. Mas em setembro veio o inquérito do valerioduto mineiro -e o petebista estava entre os acusados.
Márcio Lacerda, obscuro secretário estadual, foi filiado às pressas ao PSB para ser o candidato e inaugurar "uma nova era" na política.
Tome-se também o caso de Fernando Haddad, o ministro mais bem avaliado do governo. Várias vezes ele avisou o PT de que gostaria de ser secretário da Educação em São Paulo. Em todas, foi rechaçado pelos martistas. Decidiu se mudar para Brasília e acabou no MEC.
Ainda assim, poucos resistem ao impulso dos prognósticos precipitados. São os mais escolados. Lula fala que Dilma é o nome para 2010, mas repare como ele mantém por perto e trata a pão-de-ló todo líder jovem e emergente -Haddad, Pimentel, Eduardo Campos (PE) etc.


mfilho@folhasp.com.br


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