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MELCHIADES FILHO
O tempo e o vento
BRASÍLIA - É enorme a tentação
de estabelecer um link entre 2008 e
2010, achar que os próximos dois
anos estão amarrados de ponta a
ponta e antecipar já o desenho do
pós-Lula. Estas eleições municipais
de fato têm um peso estratégico
maior do que o habitual, e os atores
teimam eles próprios em adiantar
os bois -sem falar que gostamos todos de palpitar. Mas seria bom lembrar que o Imponderável de Almeida também joga na política.
Em boa medida, foi o acaso que
fez de Dilma Rousseff a favorita de
Lula à sucessão. No fim de 2002, o
Ministério de Minas e Energia estava reservado ao PMDB. Em cima da
hora, porém, o presidente rasgou o
acordo costurado por Zé Dirceu e,
sem nomes à mão, escolheu a neopetista que havia se destacado na
equipe de transição. Os peemedebistas só obteriam o cargo dali a três
anos, quando a dama de ferro já distribuía ordens na Casa Civil.
Outro exemplo aconteceu em Belo Horizonte. Aécio Neves e o prefeito Fernando Pimentel apostavam em Walfrido dos Mares Guia.
O ministro do Turismo era amigo
de todos (de Lula, principalmente),
tinha respaldo do grande capital e
não estava nem no PSDB nem no
PT. Mas em setembro veio o inquérito do valerioduto mineiro -e o
petebista estava entre os acusados.
Márcio Lacerda, obscuro secretário
estadual, foi filiado às pressas ao
PSB para ser o candidato e inaugurar "uma nova era" na política.
Tome-se também o caso de Fernando Haddad, o ministro mais
bem avaliado do governo. Várias vezes ele avisou o PT de que gostaria
de ser secretário da Educação em
São Paulo. Em todas, foi rechaçado
pelos martistas. Decidiu se mudar
para Brasília e acabou no MEC.
Ainda assim, poucos resistem ao
impulso dos prognósticos precipitados. São os mais escolados. Lula
fala que Dilma é o nome para 2010,
mas repare como ele mantém por
perto e trata a pão-de-ló todo líder
jovem e emergente -Haddad, Pimentel, Eduardo Campos (PE) etc.
mfilho@folhasp.com.br
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