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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Tempo nublado
SÃO PAULO - O governador do Ceará, Cid Gomes, acaba de defender a
volta de Lula ao poder. Em entrevista ao programa "É Notícia", da RedeTV!, disse ao jornalista Kennedy
Alencar: "Se eu fosse a Dilma, faria
tudo para estar bem em 2014 e convidaria Lula para ser o candidato".
Seria, segundo o irmão de Ciro
Gomes, uma "forma de gratidão"
por parte de quem "se elegeu pela
força de Lula". Vindas de um expoente do PSB, um partido aliado,
são palavras que corroem a presidente. São também palavras que dizem muito mais sobre junho de
2010 do que sobre outubro de 2014.
O que motivaria Cid? A disputa
com o PMDB por espaço no poder,
muito provavelmente. Mas, além
disso, o governador é o primeiro a
vocalizar algo que está na cabeça e
tem orientado o comportamento de
muita gente graúda na base aliada.
Michel Temer e seu PMDB, o governador Eduardo Campos (PE) e o
próprio Lula, cada um com seus interesses, se movimentam politicamente a partir da premissa tácita de
que Dilma tem prazo de validade.
Com a oposição desdentada, o
problema da presidente passa a ser
a aposta dos "amigos" da onça que
a veem como uma líder vulnerável
ou uma governante "de transição".
Estava escrito desde o início que
os inimigos reais de Dilma estavam
no interior do bloco governista. O
que há de novo é a explicitação disso com apenas seis meses de mandato. Tudo em política é reversível,
obviamente, mas a passagem sem
escalas da lua de mel para o envelhecimento precoce é gritante.
Note-se que há um descompasso
entre o ambiente político envenenado e a popularidade de Dilma,
que segue alta. Muito embora a deterioração das expectativas em relação à economia, captada agora
pelo Datafolha, seja um bom termômetro de que a aprovação à presidente pode declinar mais adiante.
É cedo para falar em "sarneyzação". E pessoalmente Dilma é muito superior. Mas este consórcio de
poder "articulado" por Temer e Ideli Salvatti não anuncia tempo bom.
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