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Lampejos de inovação
Lula lança propostas para modernizar a gestão pública, mas terá de derrotar forças presentes em sua própria base
VETORES DIVERGENTES
caracterizam a política
para a gestão dos serviços públicos da administração Luiz Inácio Lula da Silva. O loteamento ostensivo da
máquina federal -que favorece a
ineficiência e a corrupção- convive com propostas de teor modernizante.
Primeiro o governo anunciou
um projeto para regulamentar o
direito de greve no funcionalismo. O objetivo é acabar com os
privilégios de categorias que ficam meses paradas sem ônus
empregatício nem salarial.
Agora enviou ao Congresso um
projeto de lei complementar que
permite a adoção de regras similares às do setor privado na administração pública. Quer criar
fundações estatais de direito privado, nas quais os funcionários
são contratados pela CLT, as licitações podem ser simplificadas e
a remuneração dos serviços é regida por um contrato de gestão
(o repasse da verba depende da
obtenção de resultados).
As fundações poderão ser utilizadas, diz o projeto, no "desempenho de atividade estatal que
não seja exclusiva do Estado".
São explicitamente citadas no
texto as áreas de saúde, assistência social, cultura, esporte, ciência e tecnologia, ambiente, previdência complementar e turismo.
O segmento hospitalar -por
conta de sua escala e de sua importância- é o que mais benefícios deve colher se o projeto tornar-se lei. Organizações sociais e
fundações já são responsáveis
pela gestão hospitalar em algumas regiões do país, como no Estado de São Paulo. As fórmulas
jurídicas de acomodação dessa
novidade variam, mas todas se
aproximam do modelo que o governo federal quer instituir.
A aprovação da lei complementar dificultaria a viabilidade
dos questionamentos judiciais
que muitas dessas experiências
vêm sofrendo. Além dos 58 hospitais na alçada federal, outros
2.500 (geridos por Estados e municípios) poderiam ser contemplados com a inovação.
Livres de amarras burocráticas, as organizações sociais tendem, com a mesma quantidade
de recursos de um hospital público tradicional, a prestar mais
serviços. Desobrigadas de arcar
com o custo da estabilidade, do
absenteísmo, da aposentadoria
integral e demais privilégios do
funcionalismo, tais entidades
têm condições de oferecer salários competitivos e disputar os
bons profissionais do mercado.
Prenuncia-se uma dura batalha com os poderosos lobbies
sindicais para a aprovação da lei
complementar no Congresso.
Essas forças, vale lembrar, compõem a base histórica de apoio ao
PT e a Lula e ocupam posições
estratégicas no governo. Apenas
nesse embate será possível avaliar se as intenções presidenciais
vão além da mera retórica.
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